E isso não é uma pergunta, meu caro leitor; nem tampouco eu sequer imagino a resposta que seria possível, caso fosse uma pergunta. Na verdade, estamos passando por um momento em que o que a gente menos tem são respostas e certezas, não é? E eu ouso dizer que é justamente isso que tem mexido tanto com a gente. Sabemos, obviamente, que não temos controle sobre muita coisa nesta vida. Sabemos muito bem na teoria, mas quando a prática bate à nossa porta, o buraco é mais embaixo.
Quando nos encontramos diante de algo novo, do desconhecido, da possibilidade de mudança, de um caminho que nos levará a trilhas nunca antes desbravadas, é de nossa natureza querermos nos agarrar ao momento, ao que está acontecendo, ao que conhecemos, seja bom ou ruim. A gente se agarra como de fosse o último galho de uma árvore que estivesse ao nosso alcance e que nos salvasse de descer correnteza abaixo. Temos muito medo da correnteza. Temos pavor da correnteza. Mas se tem uma coisa que a vida não é, nunca foi e nunca será é estática, inerte, estagnada. Ela flui, ela muda, ela se transforma, ela nos coloca do avesso. E é exatamente isso que ela está fazendo neste momento com a gente. Nunca pisamos no mesmo rio duas vezes.
Não sabemos o que mais está por vir. Não sabemos qual o propósito de tudo isso. Não sabemos para onde tudo isso nos levará. Não sabemos quais caminhos se abrirão depois de tudo. Só sabemos que fomos, forçadamente, postos cara a cara com a mudança. E ela está olhando para a gente bem de perto, com os olhos bem abertos.
A gente tem muito medo da mudança, queremos uma bola de cristal para saber o que vai acontecer. Queremos alguém que nos diga como serão as coisas, que desenhe o traço do caminho para que a gente só siga, que nem quando a gente era criança e estava sendo alfabetizado e fazia as letrinhas seguindo o traçado da professora no papel. Queremos que nos mostrem por onde caminhar e que ainda nos deem certeza de qual o melhor caminho, com as melhores escolhas e que jamais vamos errar ou nos arrepender ou ficar em dúvida.
Nem precisa dizer que isto não existe, não é, meu amado leitor? A única certeza que a gente pode ter nesta vida é que nada é permanente, exceto a mudança. Repare só que coisa: a gente tem tanto medo da mudança, do desconhecido; sendo que é somente isso que a gente pode esperar. As novas experiências, as novas versões de nós mesmos, os novos erros, os novos aprendizados.
A mudança abala nossas estruturas, sacode o que a gente tinha como certeza inabalável. Mas a mudança é sempre uma coisa boa, mesmo que possa parecer o caos no momento em que ela se apresenta. Ela nos desafia, nos coloca à prova, nos faz vivenciar, na real, tudo que falamos e discursamos por aí afora. Ela exige que a gente alinhe o que pensamos, com o que falamos e com o que fazemos.
A mudança nos propõe reinvenção! De que forma o nosso trabalho, a partir de agora, pode ter um impacto positivo nas pessoas? De que maneira a forma que vivemos, a partir de agora, pode estar mais alinhada com o bem-estar social e ambiental? De que forma podemos contribuir para o nascimento de um mundo mais solidário, harmônico, igualitário, fraterno, justo? De que forma estamos ainda nos agarrando às estruturas que não nos servem mais?
Olha, meu caro leitor, como conversamos logo aqui em cima, não sabemos o que o Universo e a vida vão nos trazer após todo esse movimento estranho e novo que estamos vivenciando. Mas, sinceramente, eu acredito que a gente precisa desapegar da ideia e da visão de como as coisas têm que ser.
Claramente o caminho que a gente estava seguindo, crentes de que estávamos abafando, chegou ao seu fim. E um novo se abre a partir desse.
Que a gente possa largar o velho galho e se jogar nesta correnteza.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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