Coluna de Mariana Benedito – O valor que não oscila


"Quando compreendemos essa diferença, passamos a nos valorizar pela coragem de estarmos em movimento, e não pela intensidade ou velocidade desse movimento".


A vida é cheia de curvas, altos e baixos, dias de grande energia e produtividade, seguidos por dias em que tudo parece pesar mais e render menos. Esse ritmo, tão natural quanto a própria existência, muitas vezes nos leva a cometer um erro comum: medir nosso valor pelas flutuações de nosso desempenho ou pelas nossas emoções. E, eu não sei você, meu amado leitor, mas eu muitas vezes me sinto numa montanha-russa emocional, já pensou se a cada subida ou descida, eu mudasse a percepção que tenho de mim? Meu Deus do céu…

Veja, segure aqui minha mão e me acompanhe no raciocínio. Nesses dias mais desafiadores, a mente tende a ser implacável! Ela sussurra – e às vezes grita – julgamentos severos: “Você não fez o suficiente”, “Já deveria estar mais avançado”, “Não rendeu nada hoje.” A cabeça teima em focar na suposta falta, nas lacunas, e, quando deixamos, cria um discurso interno duro e devastador. É exatamente nesses momentos que o autoconhecimento e a presença tornam-se fundamentais. A mente pode ser uma grande aliada, mas também pode ser como uma tempestade, avassaladora, se a deixarmos fora de controle.

A verdade é que ninguém é produtivo o tempo todo, lidemos com isso. Nenhum de nós está sempre no seu melhor. A natureza humana é cíclica, assim como a própria natureza ao nosso redor – há períodos de florescimento e outros de recolhimento. Nosso valor, porém, não pode depender desses ciclos. E esse é justamente o pulo do gato: saber que o valor pessoal não está nas oscilações da linha da vida. Mesmo que tenhamos um dia “menos produtivo”, continuamos sendo tão valiosos quanto nos dias em que damos o nosso melhor. E isso é mais que um exercício de fé; é um trabalho de presença e autoconsciência. É bem aquela máxima do Orai e Vigiai mesmo!

Ao observarmos nossos próprios pensamentos, precisamos estar atentos a esse tom de voz interno que insiste em nos colocar para baixo quando não atingimos nossas expectativas – e as dos outros, principalmente. Que tal substituir as críticas por uma fala mais gentil? E isso não é nada sobrenatural, nem requer talento ou dons especiais; é hábito. Quando a mente se inclina a comparar nosso presente com uma versão idealizada de nós mesmos, podemos lembrar que cada dia, bom ou não, faz parte da jornada, do nosso aprendizado e desenvolvimento.

Essa prática de observar os próprios pensamentos e reconhecer a tendência a autocríticas exige presença constante e leveza, de certo modo. Porque a mente quer eficiência, quer resultados, quer sucesso visível. Mas a gente não se limita a isso, a vida não se limita a isso. Faz parte da vida aprender, expandir, tentar, errar, reconhecer o erro, seguir adiante.

Quando compreendemos essa diferença, passamos a nos valorizar pela coragem de estarmos em movimento, e não pela intensidade ou velocidade desse movimento. Compreendemos que nosso valor é inabalável, é pleno e completo em cada etapa da vida, seja num dia ensolarado ou nublado. A leveza vem exatamente desse entendimento: nosso valor pessoal é uma constante, uma presença, estável.

Então, da próxima vez que sua mente começar a se inquietar nos dias mais difíceis, lembre-se: você está exatamente onde deveria estar, aprendendo e evoluindo conforme a vida te conduz. Nem todos os dias são de brilho, mas mesmo na calmaria, no silêncio, no ócio, há um propósito. Que possamos seguir com essa leveza em cada passo, sem cobranças desmedidas, apenas nos lembrando que estamos, sempre, em construção.

 

Mariana Benedito é Psicanalista e Psicoterapeuta

Instagram: @maribenedito