É isso mesmo, amado leitor! Umbigocentrismo. Termo designado para categorizar, trocando em miúdos, aqueles que acreditam que a Terra faz o seu movimento de translação em torno dos seus respectivos umbigos. Pode até parecer cômico, mas é bem trágico, porque estamos vivendo numa geração em que o resultado é que conta, os meios são secundários…
E não é bem assim que a banda toca. Ou, pelo menos, não deveria tocar. Existe uma premissa de sucesso, um padrão que estabelece quem é bem-sucedido, de competição a todo instante; como se a vida fosse, constantemente, atravessar linhas e mais linhas de chegada. E, claro, em primeiro lugar. Vivemos numa era em que as pessoas são adversárias antes de se conhecerem e antes de qualquer possibilidade de se desenvolver uma amizade. É alta performance o tempo inteiro, é alta produtividade o tempo inteiro, como se fôssemos máquinas. E vamos produzindo, em série, pessoas que gastam a maior parte de seu tempo pensando em como ser eficientes e mais competitivas e mais produtivas.
Ser comum se tornou o novo padrão de fracasso, é preciso estar sempre acima da média, fora da curva. A partir do ponto que se cogita que a vida só vale a pena quando é recheada de grandes feitos, extraordinários, estupendos, magníficos, também se cogita que a maior parte dos habitantes deste planeta chamado Terra – incluindo eu e você, meu caro – tem uma vida totalmente sem valor, porque a maioria dos nossos dias são extremamente simples e comuns.
Eu acredito que a cereja do bolo, a azeitona da empada, a calda de morango do sorvete é justamente o fato de as pessoas que se tornam verdadeiramente extraordinárias viverem alinhadas com elas mesmas. É. São honestas e claras com elas mesmas: reconhecendo o que sentem, o que vivem, suas limitações, sua mediocridade, sua verdade. Se ela é boa em alguma coisa, não tem problema algum em reconhecer isso; do mesmo modo que, quando não faz algo bem, é humilde em admitir que aquele não é o seu forte. Elas aceitam que não são especiais, não possuem o seu umbigo como centro do universo, mas sim buscam o aperfeiçoamento. Quem se torna maraviwonderful em alguma coisa que se predispõe a fazer, consegue se destacar por entender que não nasceu o suprassumo naquilo – é comum e igual a todo mundo – mas compreende que pode tornar-se melhor a partir do momento em que se dedica a melhorar, reconhecendo seus pontos fortes e fracos.
Te pergunto, querido leitor, você consegue fazer uma lista honesta de seus pontos fortes e fracos? Sem enfeitar e sem se diminuir, uma avaliação verdadeira, numa aceitação total de quem você é, com dons e desafios, enxergando com honestidade as partes negativas de si mesmo.
Só a partir desse ponto de verdade sobre quem você é, se torna possível agir em direção ao aprimoramento. Uma pessoa que não possui humildade é incapaz de melhorar a própria vida de maneira significativa, justamente porque não reconhece seus pontos fracos e vai os empurrando cada vez mais para debaixo do tapete e elevando os níveis de negação.
Humildade é ter coragem de examinar tudo que somos, não só as partes bonitas, mas tudo que existir no meio desse bolo. Tudo. E, com isso, tiramos o peso da constante pressão de ser incrível o tempo todo, nessa busca maluca e equivocada por uma perfeição inexistente.
O mundo não gira ao redor do nosso umbigo e o movimento mais verdadeiro que podemos realizar nesta vida é em direção a nós mesmos.
Assim como a Terra e seu movimento de rotação, alternando luzes e sombras e buscando o eixo de simetria.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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