Coluna de Mariana Benedito – Viva a imperfeição!


“ainda mais importante que o movimento, é entender a necessidade da pausa. É reconhecer que está tudo certo em errar”


                

Olha, vou ser bem sincera e transparente aqui com você, meu caro leitor: uma das minhas maiores dificuldades na caminhada neste planeta chamado Terra é aceitar a imperfeição. E, primeiramente e mais importante, aceitar, lidar e compreender a minha imperfeição. Pode parecer chover no molhado esse papo de que não somos perfeitos, mas você já parou para pensar no tanto de coisa que você se cobra, contando com a inatingível perfeição?

A gente tem que buscar fazer as coisas que precisam ser feitas, usando as melhores ferramentas que a gente aprendeu ao longo da vida, da melhor maneira que puder. E é justamente aí que entra o xis da questão, meu amado. Da melhor maneira que puder. Que for possível. Que for palpável. Que estiver ao alcance. A perfeição está atrelada, na grande maioria das vezes, observe, ao desejo de agradar, de ser aceito, de ser amado. Buscamos ser perfeitos para merecer atenção porque, em algum momento da nossa existência, entendemos que ser como a gente é não era suficiente, precisávamos ser mais. Fazer mais. Doar mais. Ser melhor para ter o amor. E aí qual o caminho que seguimos? Achar que somente quando cumprirmos todos os requisitos da lista infindável de qualidades, seremos merecedores.

Agora, senta aqui, deixa eu segurar na tua mão e te dizer uma coisa, meu amado ser, nós somos criaturas compostas pela falta. Como se fala na área do comportamento humano, somos seres faltosos. E é justamente a falta que nos move, nos movimenta, nos impulsiona. Mas, ainda mais importante que o movimento, é entender a necessidade da pausa. É reconhecer que está tudo certo em errar, em falhar, em não conseguir, em não dar conta. Entender que somos imperfeitos como qualquer ser humano nesse mundão, que tem fraquezas, medos, dias melhores, dias piores. Aceitando que existem imperfeições que podem ser mudadas – buscando autoconhecimento, auto-observação, a reforma interna, uma versão melhor de nós – mas existem outras que não podem ser mudadas, e está tudo bem.

Agora avalie, meu queridíssimo leitor, a carga emocional, física, energética que a gente carrega ao tentar dar conta de tudo, saber de tudo, ser perfeito em tudo. É um peso descomunal para se carregar. E uma hora cansa, não tem para onde correr. Cansa porque não é algo natural, cansa porque a gente não foi programado para ser bom em tudo, compreende?

Lidar com a falta é algo muito delicado porque a gente está sempre buscando preencher vazios, espaços, lacunas. A gente tenta ocupar lugares com coisas e situações que não se encaixam naquele espaço. A dor da falta, do não ter, do não possuir é muito grande e, buscando simplesmente não sentir essa dor, a gente busca formas de preenchimento; porque, meu amado, nós não sabemos lidar com o desconforto.

Mas, meu querido, lidar com a falta perpassa, justamente, pelo encontro com o desconforto, com o incômodo. É entender que nem todos os espaços serão preenchidos, nem todas as nossas expectativas serão supridas, nem todos os nossos desejos serão realizados, nem todos os nossos sonhos darão certo, nem todas as pessoas serão do jeito que a gente quer. É preciso aprender a seguir adiante, mesmo com tudo isso. Conviver com a imperfeição. A do outro e a nossa, principalmente. Fácil? Mas não é mesmo.

Se reconhecer como um ser que erra e se reconhecer errando – porque são coisas diferentes, não é? – eu acredito que seja o primeiro passo. O segundo talvez seja aceitar que a gente não pode carregar o mundo nas costas e nem dar conta de tudo o tempo todo. Não é humanamente possível. E, creio que o mais importante, é saber que, mesmo não sendo possível ser bom em tudo o tempo todo, merecemos ser amados. E se a gente pensar com carinho, tirando de cena o que a gente idealiza, nós somos amados de forma real; cada um ama do seu modo e demonstra das mais variadas formas. O babado é que a gente se esquece de reconhecer o que recebe, para mirar e reclamar do que gostaria de receber.

Mas aí é assunto para um próximo artigo.

Só lembra: se permitir lidar com o desconforto. E está tudo certo.

Sigamos!

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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