Coluna de Mariana Benedito – Viva o erro!


“A gente vive como se ser aceito, ser amado fosse resultado de um esforço nosso”


 

Eu não sei você, meu caro leitor, mas sou produto de uma geração em que o erro é algo imperdoável. Quando completei 30 anos, o Facebook me trouxe a lembrança de uma postagem que fiz no dia do meu aniversário de 25 e que me relembrou posturas e pensamentos de quando tinha 18. Vamos por partes. Quando eu completei 18 anos, já estava na faculdade e estava vivendo a fase de planejamento de vida. Aquela velha história de como gostaria de estar aos 25. Idealizei muita coisa, planejei outras, sonhei outras tantas.

E eis que no dia que completei 25 – que sempre foi para mim um marco na vida de uma pessoa, como se fosse uma espécie de bússola: a maneira como você estaria aos 25 diria a direção que o resto da sua vida tomará; hoje eu vejo o quão pesada essa expectativa pode ser aos 25 anos, mas isso é ponto para outro artigo – me vi de frente à idealização que tinha feito aos 18, tinha chegado no ponto tão esperado. Ôh, meu amado leitor, os rumos que me levaram aos 25 foram completamente diferentes dos que eu idealizei aos 18. E lembro que o sentimento que mais mexia comigo aos 25 era me dar a permissão de errar.

Quando completei 30, essa postagem dos 25 apareceu nas lembranças do Facebook e eu pude, de verdade, perceber o quanto o erro é importante na vida da gente. Passei grande parte da minha vida numa busca pelo acerto, correndo profundamente do erro, do fracasso, da queda, do tropeço, como se cometer falhas fosse o pior dos acontecimentos. Na verdade, a grande maioria de nós acredita que, ao cometer erros, vamos estar perdendo o direito de sermos amados. A gente vive como se ser aceito, ser amado fosse resultado de um esforço nosso. Se eu fizer mais, se eu aguentar mais, se eu me sacrificar mais, se eu esperar mais e mais e mais, quem sabe, talvez, eu seja merecedora de afeto. E assim vamos vivendo em busca de uma perfeição que não existe e, quando nos deparamos com a nossa imperfeição, sentimos vergonha dela, porque acreditamos que essa parte “imperfeita” não pode ser amada.

Mas, meu amado ser que me lê aí do outro lado, a função do ser humano é ser imperfeito; somos seres de falta, de falhas, de erros. E, há pouco tempo, ouvi minha mãe falando ao telefone com um colega de trabalho a respeito de processos profissionais rotineiros do setor, mas uma frase me chamou a atenção. Ela disse: fulano, só erra quem faz. Quanto sentido tem nesta frase!

O ato de cometer erros significa que estamos vivendo. Ninguém nasce com um manual de vida no bolso – até porque a gente nasce pelado que é, simbolicamente, justamente a abertura total para as experiências, despido de qualquer expectativa – e vamos tateando as sensações, construindo comportamentos, emoções, sentimentos à medida que vamos caminhando. Ou seja, à medida que vamos errando.

Quando a gente erra, estamos nos dando permissão para viver, para tentar, para experimentar e, principalmente, para sair da crença de que somos perfeitos e não podemos errar. Repare que acreditar que somos perfeitos nos denota a impressão de não precisar mais fazer nada: não existem mais nada a ser acrescentado, chegou-se ao ponto máximo. Será mesmo que não há nada a nos ser acrescentado?

Errar é necessário, só assim a vida vai para a frente. Errar significa avanço no caminho. Errar para a vida ter continuidade, estar aberto às possibilidades. Errar para aprender. Errar para crescer.

Que bom que hoje, aos 30 anos, eu me permito a dádiva do erro. De aprender com eles que me trouxeram até aqui e construíram quem sou. Me sinto muito mais humana e, consequentemente, mais viva. Me permitindo errar, eu me permito desenvolver a capacidade de mudar de rota, de opinião, de caminho. Me permito me abrir para o mundo, para a vida e para as experiências.

Espero que você também encontre o caminho do erro e da imperfeição. Que possamos seguir juntos nesse processo de degustação da vida.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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