Estava eu aqui pensando e refletindo com meus cachos e botões, após atender uma sequência de pacientes com uma questão em comum: o quanto a gente se compara. É absurdo como a gente compara os nossos bastidores com o palco dos outros, meu amado leitor. Só quem sabe as lutas, desafios, obstáculos, limitações e apertos que se passa na vida é quem passa por tudo isso. E cada experiência é uma vivência!
Já pensou na quantidade de vida que deixa de ser vivida porque a gente começa a se medir pela régua dos outros, esquecendo que cada pessoa tem uma história e uma jornada únicas? Todo mundo tem algo a ser passado, deixado nesse mundo, uma influência e impacto na vida das pessoas; uns mais, outros menos… não importa! O que importa é qualidade do servir, do estar, do viver, de construir o seu legado.
Minha mãe fez aniversário no último dia 23 e eu a presenteei com um buquê de flores do campo. Ele está aqui diante dos meus olhos, e a beleza dele é justamente pela harmonia entre os diferentes tipos de flor, cada uma cumprindo seu papel com maestria e encanto. Sabendo ocupar seu lugar sem comparação ou competição. Agora eu te pergunto, meu amado ser que lê essas linhas aí do outro lado: será que a flor sente medo quando ela vai desabrochar? Será que o girassol fica pensando que tem menos perfume que a rosa e que, por isso, não vai florescer por medo do julgamento e comparação? Ou será que a rosa, por sua vez, pensa que não tem as cores tão vívidas quanto as do girassol e daí se treme toda de medo de se abrir e ser rejeitada? Será que a lagarta pensa quinhentas vezes antes de abrir as asas pela primeira vez, por achar que o voo está meio desengonçado?
Não.
Nada disso acontece. Elas simplesmente são e vão, seguem o fluxo, confiam no processo, entendem que cada uma tem seu brilho, sua função, seu papel, sua característica. Cada uma é única e pertence ao todo. Sem uma delas, a harmonia fica quebrada.
E por que raios a gente tem tanto medo de desabrochar, de brilhar, de confiar, de fluir? Por que a comparação com o talento do outro, com o brilho do outro, com o jeito do outro? Por que o medo de ser? Tudo que a gente veio fazer aqui é ser; quando a gente nasce, chegamos aqui com um pacote de possibilidades: nossas, únicas. Que nem aqueles convites pessoais e intransferíveis, sabe? Justo a você coube ser você, é desse jeito.
Eu já tive muito medo de ser. De brilhar, de desabrochar. É como se existisse sempre uma voz me dizendo que eu não estava pronta, não era boa o suficiente pra me lançar, não era boa o suficiente pra começar, precisava fazer mais e mais e mais para ser aceita e validada. Me comparei, paralisei, me diminuí, tive medo do julgamento, tive receio do que iriam falar ao tomar caminho X ou Y, tentei frear o processo. Criei os cenários mais caóticos na minha mente, até que me dei a devida desimportância: a vida das pessoas não vai girar em torno do meu orbe o tempo inteiro. Mas a minha vida precisa fazer sentido para mim! E a vida primeiro sussurra, depois ela grita!
É preciso caminhar, colocar o pé para que a vida bote o chão.
É preciso estar em movimento.
Caminhe. Seja.
Calibra a sua bússola interna, se joga na vida, comete erros, busca ajuda. Deixa que o caminho se abra sob seus pés, mas para isso é preciso caminhar, se mexer, escolher mudar.
Abrace a jornada, se permita viver a plenos pulmões. Identifique os seus padrões, corrige seus pensamentos quantas vezes forem necessárias, vai silenciando essa voz que diz, aí na sua cabeça, que você não é digno disso e daquilo, que precisa ficar com o menos pior, com o que dá.
Permita que a vida aponte as direções.
A vida confia em você, você que precisa confiar mais nela.
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito