De vento em popa



  * Marco Wense                Marco Wense

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O barco do senador Otto Alencar, autoridade-mor do PSD da Bahia, desliza com mais velocidade em decorrência de bons ventos que começam a soprar na parte posterior.

O parlamentar, que nasceu em Ruy Barbosa, cidade da Chapa Diamantina, médico ortopedista, deixa de lado as fraturas e fissuras ósseas para tratar exclusivamente de traumatismos políticos.

Otto vive o seu melhor momento na vida pública. Pilota seu avião em céu de brigadeiro, sem nuvens cinzentas que possam atrapalhar seu legítimo e democrático sonho: ser novamente governador da Bahia.

Até os que procuram prejudicar, agindo nos bastidores, na calada da noite, de maneira sorrateira, terminam ajudando, como Cícero Monteiro e Josias Gomes, homens de confiança do governador Rui Costa (PT).

Monteiro e Gomes, respectivamente o atual e o ex-secretário de Relações Institucionais, trabalharam para manter Marcelo Nilo (PSL) na presidência Montagemda Assembleia Legislativa do Estado.

O prefeito soteropolitano ACM Neto, o fiel da balança, o comandante da oposição, caminhava no sentido de liberar os deputados para que cada um votasse de acordo com sua vontade.

Para o demista Neto, era o mesmo que trocar seis por meia dúzia. Ou seja, tanto faz Marcelo Nilo, do PSL, como Ângelo Coronel, do PSD. Ambos integrantes da base aliada do governismo.

Quando o democrata percebeu que a articulação política do Palácio de Ondina estava pedindo votos para Marcelo Nilo, queimando o Coronel, tomou a decisão de apoiar o candidato do senador Otto Alencar.

Cícero Monteiro e Josias Gomes só fizeram o que não deveriam fazer. Sem dúvida, os responsáveis pelo apoio decisivo da oposição à candidatura do Coronel, o que levou Nilo a desistir de conquistar o sexto mandato.

Fica agora a obrigação de arrumar uma vaga para Marcelo Nilo na chapa majoritária da reeleição do governador Rui Costa, como candidato a vice ou a senador. Vale lembrar que já defenestraram Nilo na sucessão de 2014.

Ora, ora, até as freiras do Convento das Carmelitas sabem que existe uma preocupação com a ascensão do senador Alencar, que vai ocupando os espaços políticos de maneira inteligente e sem fazer oba-oba.

A prova inconteste de toda essa inquietação aconteceu na Secretaria de Comunicação Social (SECOM). A matéria sobre a eleição de Eudes Ribeiro, prefeito de Bom Jesus da Lapa, para à presidência da União dos Municípios da Bahia (UPB), não citou o nome do PSD, legenda de Eudes.

A ordem agora na articulação política do governismo é monitorar todos os passos de Otto Alencar. Para os petistas mais acautelados, que não confiam nem na própria sombra, o senador é um potencial adversário.

Outro detalhe é que ACM Neto está mais para apoiar Otto do que para sair candidato ao governo da Bahia. Pessoas bem próximas do chefe do Executivo são da opinião de que é melhor juntar forças e derrotar o petismo do que se aventurar numa eleição difícil.

Mas o que mais assombra o PT é que dos dez maiores colégios eleitorais, os quatro primeiros – Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Camaçari – são governados por prefeitos declaradamente antipetistas: ACM Neto, José Ronaldo, Herzem Gusmão e Elivaldo.

Desses 10 municípios, somente dois chefes de Executivo dificilmente deixariam de apoiar à reeleição de Rui Costa: o de Juazeiro e o de Lauro de Freitas, respectivamente Paulo Bonfim (PCdoB) e Moema Gramacho (PT). O prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, é do PSD de Otton. O de Alagoinhas é Joaquim Neto, eleito pelo DEM. O de Jequié é Sérgio Gameleira (PSB).

E Fernando Gomes? Itabuna é o quinto maior colégio eleitoral. FG é uma angustiante dúvida, não em relação a sua saída do DEM, já dada como favas contadas, mas com quem fica em uma eventual disputa entre Rui Costa e Otto Alencar pelo governo da Bahia.

Não à toa que o governismo, tendo na linha de frente Josias Gomes, faz de tudo para evitar uma filiação de Fernando Gomes ao PSD do senador Otto Alencar.

Vale lembrar que o Partido Social Democrático (PSD) vai gerenciar 82 centros administrativos. No extremo sul conquistou as principais prefeituras: Teixeira de Freitas, Porto Seguro, Eunápolis e Cabrália.

Concluo dizendo que o senador Otto Alencar não é político de ficar presenciando as sabedorias do PT e ficar calado. Não é nenhum neófito no movediço e traiçoeiro mundo da política.

De vento em popa. É assim que caminha Otto Roberto Mendonça de Alencar rumo ao comando do Palácio de Ondina. Pode ter do seu lado um invejável e cobiçado cabo eleitoral: o prefeito ACM Neto (DEM).

Portanto, é desaconselhável o “já ganhou” que começa a tomar conta do Partido dos Trabalhadores. Sobressaltos, surpresas e fatos inesperados são inerentes ao jogo político.