Eles (os militares) não se entendem


Esse jogo traiçoeiro termina criando crises profundas


 

General Mourão

Na política, o vice quase sempre é um potencial candidato a não ser mais vice. Ou seja, o vice-prefeito quer ser prefeito, o vice-governador se articula para ser governador e o vice-presidente sonha com o título de mandatário-mor do país.

O exemplo mais recente é Michel Temer, que terminou assumindo o lugar de Dilma Rousseff depois do impeachment arquitetado pela turma do então PMDB, tendo na linha de frente figuras como Moreira Franco, Romero Jucá e Renan Calheiros.

E por falar em Calheiros, o PT andou de mãos dadas com ele lá em Alagoas, enfraquecendo e jogando na lata do lixo o discurso do “golpe” e dos “golpistas”. O que não deixou de ser uma desconsideração a Dilma Rousseff. O PT deu um golpe no “golpe”.

Esse jogo traiçoeiro, inerente ao movediço mundo da política, termina criando crises profundas, desestabiliza qualquer governo. O vale-tudo é perverso e escandaloso, na base do toma-lá-dá-cá e do salve-se quem puder.

Essa falta de sintonia do titular do cargo com seu, digamos, reserva de luxo, pode provocar uma instabilidade institucional que termina levando o governo – municipal, estadual ou federal – a uma situação preocupante.

O candidato Jair Bolsonaro, por exemplo, anda irritado com seu vice, o general Hamilton Mourão, protagonista de declarações que contrariaram o capitão, como a do décimo terceiro e tantas outras.

Bolsonaro defende a neutralidade na sucessão do Palácio dos Bandeirantes, com a acirrada disputa entre o atual governador Márcio França (PSB), que busca a reeleição, e o tucano João Dória, ex-prefeito paulistano.

Mourão, no entanto, declarou apoio a Dória, deixando Bolsonaro tiririca da vida. “Mais uma vez o Mourão só atrapalha. Não traz nenhum voto ao Bolsonaro, mas cada vez que abre a boca tira um punhado”, diz o senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo.

Ora, ao se aproximar de Dórea, Mourão pensa no seu futuro político, na disputa pelo Palácio do Planalto na eleição de 2022. Vale lembrar que o estado de São Paulo é o maior colégio eleitoral do país.

Pois é. Os militares não estão se entendendo. O capitão discorda do general, o general não escuta o capitão e o major faz crítica ao general. Ninguém quer bater continência.

E assim caminha a política do nosso Brasil. De um lado, o PT que acha que não fez nada de errado. Do outro, Bolsonaro como “salvador da Pátria”.

Que situação, hein! Ciro Gomes tinha razão.

Bolsonaro e os debates

Não ir aos debates aqui no Brasil parece que já é uma decisão de consenso entre os coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro (PSL).

Se temem um fiasco de Bolsonaro diante do petista Fernando Haddad, que não é esse bicho-papão todo, imagine se fosse Ciro Gomes (PDT). Só em pensar, daria tremedeira.

O problema é que, mais cedo ou mais tarde, Bolsonaro, se eleito, vai ter que sair do seu medo e enfrentar os questionamentos sem chamar o “´Posto Ipiranga”, que é Paulo Guedes, seu futuro ministro da Fazenda, que também não é essa coca-cola toda.

O primeiro teste de Bolsonaro vai ser o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que acontece em janeiro de 2019, em data ainda a ser marcada.

No evento, na estação de esqui nos Alpes, Bolsonaro vai ter que explicar seus planos para a elite mundial, de como conduzirá as reformas na economia nacional, principalmente em relação às medidas liberais.

Além dos assuntos econômicos, os líderes mundiais vão indagar Bolsonaro sobre algumas declarações preconceituosas, como, por exemplo, a de que “a minoria tem que se submeter à maioria”. Pontos como racismo, homofobia e machismo devem entrar na pauta.

Há uma grande expectativa com Bolsonaro, já que foi manchete em vários jornais e revistas do mundo como um fenômeno eleitoral, extremista e uma ameaça à democracia brasileira, como frisou, em editorial, a conceituada revista Economist.

O convite também foi formalizado ao presidenciável do Partido dos Trabalhadores, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, muito pouco comentado lá pelas bandas do estrangeiro.

Em Davos, o frio é intenso, de lascar o cano, como diz o bom nordestino. Se eleito e aceitar o convite, Bolsonaro deve perguntar ao “Posto Ipiranga” qual a roupa que deve usar.

Tiro no pé

Depois do sincero e verdadeiro desabafo de Cid Gomes, dizendo que o Brasil não tem dono e que o PT precisa fazer “mea culpa”, os aliados de Haddad estão dizendo que o irmão de Ciro Gomes atirou no próprio pé.

São da opinião de que a estratégia do PDT de se preservar para a sucessão de 2022 não dará resultado, já que o PT é quem vai se beneficiar com um eventual fracasso do governo Bolsonaro.

Esse PT, hein! Depois ficam dizendo que estou de birra com a legenda, que acordo já pensando em escrever contra o PT.

Ora, querem o quê, que o PDT continue sendo apêndice do petismo, sendo cozinhado em banho-maria, como fez Lula com Ciro?

Ora, ora, o PT só pensa nele. É o partido mais egocêntrico do sistema partidário brasileiro. Na sucessão de 2022 terá seu candidato e vai lançar outro “poste”.

Politicamente falando, que me desculpe o caro leitor, é melhor um “tiro no pé” do que um “pontapé na bunda”.

O PDT não tem “poste”. Tem Ciro Gomes.

Centrão  

O jacaré do chamado “centrão”, um agrupamento de partidos adeptos fervorosos do toma-lá-dá-cá, formado pelo DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, está com a boca aberta.

Não com fome de comida, mas de cargos. Como considera favas contadas a vitória de Bolsonaro, já mandou o recado de que não abre mão da presidência da Câmara dos Deputados.

A cúpula do PSL, legenda do presidenciável, já trabalha o nome de Eduardo Bolsonaro, reeleito deputado por São Paulo, filho do capitão.

Dirigentes já avisaram que “se Bolsonaro for eleito e atropelar o “centrão”, enfrentará forte oposição desde o início do mandato”, deixando nas entrelinhas que pode se aliar ao PDT, PT e PSB.

Vamos ver se o discurso de Bolsonaro de não indicar políticos para cargos de primeiro escalão vai se manter. É bom lembrar que a turma do “centrão” adora um pedido de impeachment.

Casamento

Logo no início do namoro entre o governador Rui Costa (PT) e Fernando Gomes, então filiado ao DEM, o ex-prefeito Geraldo Simões, ao ser questionado sobre o galanteio, disse que era “casamento de cobra com jacaré”.

Pois é. Ontem ocorreu a festa do enlace. Em vez da aliança, Fernando Gomes colocou o adesivo do PT no lado esquerdo do peito.