Não sabemos se aquelas 31 pessoas reunidas na residência paroquial do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto e sob a presidência do 1º Bispo de Ilhéus, D. Manoel Antonio de Paiva, naquela noite de 04 de julho de 1916, anteviam o grande crescimento da instituição que eles pretendiam criar, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna. Aquela era a primeira reunião que faziam, outras seriam realizadas, sempre sob a liderança daquele padre empreendedor, o Monsenhor Moysés, que aqui chegara em 1908, quando Itabuna ainda era a Vila de Tabocas e que já havia fundado a Sociedade São Vicente de Paulo e outras irmandades católicas.
Itabuna havia adquirido a emancipação política 6 anos antes e vivia um momento de grande crescimento, vendo aumentar a chegada de sergipanos e de sírio-libaneses e a jóvem cidade necessitava de novas instituições para atender os seus habitantes. Aquele grupo decidido não deixou perder o entusiasmo e, a 28 de janeiro de 1917, era oficialmente criada a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, com o objetivo de construir um hospital e um novo cemitério. Daí para a frente, teve início o difícil trabalho de angariar recursos , até que no dia 07 de setembro de 1922, foi oficialmente inaugurado o Hospital Santa Cruz, com 10 leitos e três funcionários; a clientela era inteiramente formada pelos chamados indigentes. O seu diretor clínico foi o Dr. Carlos Cavalcanti da Silveira ; também participaram nos primeiros atendimentos aos pacientes os médicos Appio José Lopes, Américo Brim d’Araújo, Ruffo Galvão, Alcides dos Santos Silva, Walter Pinto de Almeida, Artur Xavier da Costa e outros. Três anos depois era oficialmente inaugurado o Cemitério do Campo Santo.
Os seus idealizadores inspiraram-se no modelo que teve início em terras lusitanas quando, no dia 15 de agosto de 1498, a Rainha Dona Leonor de Lencastre instituiu a Irmandade da Misericórdia, em Lisboa, sendo seu primeiro Provedor o frei espanhol Miguel de Contreras. O nome de Irmandade da Santa Misericórdia foi depois mudado para Irmandade da Santa Casa de Misericórdia; já com esse nome, foi erguida a primeira Santa Casa em nosso país, na Capitania de São Vicente, atual cidade de Santos, no dia 01 de novembro de 1543. A segunda foi a de Salvador, no ano de 1549.
Celebrando esses 100 anos de existência, vemos como tem sido difícil, primeiro para os seus idealizadores e, depois, para os que continuaram essa luta, pela manutenção e crescimento de um setor complicado e caro como é a assistência médico-hospitalar, mormente em um país com inúmeras carências , com uma população mesclada por grande número de crianças e de velhos; os recursos que chegam aos hospitais são insuficientes até para a sua manutenção quanto mais para ampliar e investir em novos equipamentos e tecnologias modernas , condizentes com o que se observa no mundo. É só acompanhar o noticiário, principalmente pela televisão, para verificar a situação real da maioria dos nossos nosocômios. A nossa Santa Casa de Misericórdia de Itabuna sempre esteve às voltas com a situação econômico-financeira, piorando nos últimos anos, por várias causas que não dariam para serem explicadas em poucas palavras. Já temos abordado esse tema em vários comentários e, certamente, também o faremos no futuro pois as dificuldades perduram.
Como o momento é de comemoração, pelo centenário, vamos agir com alegria e esperança, pedindo bênçãos aos céus pela efeméride, com agradecimentos aos homens e mulheres que muito deram de si pela instituição.
Vida longa veneranda Santa Casa de Misericórdia de Itabuna.
João Otavio Macedo.