Ficar quietinho não faz mal a ninguém! 


Antes de falar, a gente precisa aprender, observar, absorver, analisar porque senão a coisa degringola para a imaturidade, para o comportamento adolescente.


Mariana Benedito

Olhe, meu amado leitor, eu não sei você, mas eu percebo uma onda crescente de gente opinando em tudo. Todo mundo tem uma opinião formada sobre tudo, todo mundo quer discutir tudo, todo mundo acha que possui os melhores argumentos e quer sair ganhando na discussão. 

E, repare, eu estou falando do comportamento crítico com tudo, aquele padrão de ter uma crítica na ponta da língua sobre assuntos que, na realidade, não tem o menor domínio e sai por esse mundão de Deus reproduzindo coisas vazias que nem maritaca desgovernada.

Antes de falar, a gente precisa aprender, observar, absorver, analisar porque senão a coisa degringola para a imaturidade, para o comportamento adolescente de só querer ter razão e se mirar somente no que a gente sente no momento, num estado interior momentâneo sem base sólida e fortalecida. 

Vou trazer dois exemplos para esta coluna. Primeiro vamos imaginar que, assim como eu, você seja louco por chocolates e tenha uma caixa de bombons Nestlé, ao passo que eu tenha uma caixa de bombons Garoto, ok? Sentiu na boca o gostinho? Pois bem, eu não sou fã de chocolate branco, daí sugiro a você fazer uma troca: eu te dou o Opereta e você me dá um Chokito. Você, apaixonado por chocolate branco, aceita na hora! E daí a gente vai trocando os bombons que não gosta de uma caixa pelos que gosta da outra; vai conversando, vai entrando num consenso e todo mundo sai feliz com seus bombons favoritos das duas marcas! Olha que delícia!

É mais ou menos assim que a coisa funciona com as opiniões. Se a gente parar para ouvir, assimilar, entender as razões do outro, tentar pegar o fio da meada do pensamento do coleguinha sem permitir que o julgamento já esteja plantado que nem poste, é possível que todo mundo saia com novas visões de mundo, novas perspectivas, novos horizontes. Não é mesmo?

Agora vamos ao nosso segundo exemplo que é, na verdade, quase um exercício, meu amado ser que me lê aí do outro lado. Seja bem sincero com você mesmo, você já parou para perceber que, na maioria das vezes em que ouve a opinião de uma outra pessoa, sua mente não está voltada inteiramente só para ouvir, mas sim para formular uma resposta, para retrucar, para julgar, para formular um comentário que mostre sua “superioridade intelectual”?

Pois é, não estamos acostumados a ouvir. Não estamos acostumados a abaixar nossas orelhas e aprender. A gente quer mostrar que sabe, que ter opinião sobre tudo, quer ter argumento sobre tudo quando, na verdade, esse comportamento só esconde uma soberba sem tamanho!

Falo isso, meu caro, com experiência própria. Uma das maiores quedas emocionais do meu processo de autoconhecimento foi perceber a minha arrogância e soberba em achar que eu sabia mais que todo mundo, foi aprender a ficar quieta e aprender, foi aprender a ouvir de verdade.

Ninguém precisa ficar esbravejando suas opiniões aos quatro ventos. Não é preciso saber tudo, opinar sobre tudo ou ter uma opinião formada sobre tudo, como já dizia o velho Raul Seixas.

Ficar quietinho não faz mal a ninguém, muito pelo contrário, nos possibilita enxergar outros prismas, outras possibilidades. Sem contar que é bem mais gostoso conviver com alguém maleável, flexível, que tem abertura para ouvir do que com um cão raivoso que sai mordendo ao menor sinal de incompatibilidade de ideias, não é? 


Mariana Benedito – Psicanalista, terapeuta e especialista em Marketing

Instagram: @maribenedito