Não é fácil fazer jornalismo político. Sem dúvida, uma missão difícil, mas emocionante e cheia de surpresas e sobressaltos. Política não é 2+2=4.
De início é bom dizer que não sou jornalista, repórter ou qualquer coisa relacionada com a imprensa. Sou apenas um modesto colaborador dos conceituados Diário Bahia e blog Pimenta na Muqueca, dos amigos Valdenor e Davidson.
Tive a sorte de conviver com os saudosos Eduardo Anunciação, Dagoberto Brandão e Hélio Pitanga. O primeiro, um comentarista político retado de bom, que exercia a profissão com muita paixão. O segundo, não era jornalista, mas entendia tudo do meio político, principalmente do que acontecia nos bastidores. E, por último, Hélio Pitanga, poeta, escritor e anarquista assumido. Uma figura inesquecível.
O velho Dagô, como era carinhosamente chamado, foi o fundador e primeiro dirigente do PDT de Itabuna. Aprendi muita coisa com Dagô. Foi meu “pai” na política. Homem de bem, defensor implacável da ética e da política com P maiúsculo.
Duda, o velho Gaguinho, era polêmico, irreverente e inquieto. Foi ele que me projetou para o jornalismo político, que endossou meu primeiro artigo no Diário de Itabuna, que tinha como redator-chefe Nilson Andrade, hoje em um lugar chamado de eternidade.
E Hélio Pitanga? Esse um figuraço. Foi candidato a deputado federal pelo PT com a seguinte bandeira: “Só quero voto das lésbicas e das prostitutas”. Conheci Hélio na então Fespi, hoje UESC, Universidade Estadual de Santa Cruz. Hélio fazia filosofia, um brilhante orador. Eu, bem novinho e bonitão, cursava Direito e era o presidente do Diretório Acadêmico.
Sabe quem admirava o anarquista Hélio Pitanga? O empresário José Soares Pinheiro, ex-candidato a prefeito de Itabuna, o Pinheirinho, que se ganha a eleição para Alcântara, Itabuna seria outra, sem o populismo demagógico que tomou conta de vários governos.
Não esqueço de Hélio em um evento no então poderoso CCPC (Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau). Pinheirinho com a palavra. Auditório lotado. Hélio, com sua irreverência, pede licença e diz: “Pinheirinho, você é homem de bem, caia fora desse capitalismo selvagem, você está cercado de hipócritas, o circo tá pegando fogo”. Foi um bafafá. Depois do evento, Pinheirinho fez questão de conversar com Hélio e deram gostosas risadas.
Magrinho, cabelo todo branco, sandália de couro, calça jeans desbotada, Hélio era tipógrafo e proprietário de uma pequena gráfica que se chamava “Editora Tranca Rua”.
Tive a felicidade de ter a companhia dos três ao mesmo tempo. Uma conversa com Hélio Pitanga, Dagoberto Brandão e Eduardo Anunciação era uma dádiva de Deus. Um presentão da vida.
Além desse trio, não perdia a Coluna do Castelo no Jornal do Brasil e de Cláudio Abramo e Clóvis Rossi na Folha de São Paulo. Castelinho, como era mais conhecido, foi um dos melhores comentarista políticos do Brasil. Quem não lesse sua imprescindível coluna, não podia discutir política. Ficava a ver navios.
Saudades de todos. A tristeza é não ter mais um, dois, três Eduardos na nossa imprensa, que é pobre no jornalismo político. Infelizmente.