O general Hamilton Mourão costuma dar declarações que causam uma certa insatisfação no staff mais próximo do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL).
Mourão, o vice-presidente longe de ser uma figura decorativa, um adorno palaciano, tem sempre opinião sobre qualquer assunto, sem demonstrar nenhuma preocupação com as consequências, em criar constrangimento para a maior autoridade do Poder Executivo.
O jeito de ser de Mourão, com sua consistente personalidade, vem despertando a curiosidade não só dos bolsonarianos como dos oposicionistas. Sem falar da repercussão em outros países.
Em recente viagem aos Estados Unidos, em um debate na US Chamber, em Washington, Mourão foi elogiado pela nata dos empresários.Todos disseram que o vice-presidente era uma “fonte de estabilidade”. Foi interrompido várias vezes com aplausos.
Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, só agora, depois de quase 100 dias de governo, emite uma opinião que desagrada o chefe do Executivo. O silêncio do ex-juiz, além de deixá-lo fora da mídia, passava a impressão de acomodação diante das coisas erradas do governo.
O Moro resolveu ser outro. Saiu da passividade para a “rebeldia”. Sobre a morte do músico Evaldo Rosa, executado com 80 tiros, na zona Norte do Rio de Janeiro, disse que foi “lamentável” a ação do Exército.
Ora, falar do Exército é mexer com o presidente da República de plantão. Informações de bastidores dão conta de que Bolsonaro não gostou da crítica que Moro fez ao segmento das Forças Armadas.
Vale ressaltar que o presidente Bolsonaro, pelo menos até ontem, não tinha se manifestado sobre o brutal crime, sequer uma nota de solidariedade a família da vítima.
No tocante à política, no sentido partidário, Moro é igual a Morão. Nega que esteja de olho no comando do Palácio do Planalto em uma eventual desistência de Bolsonaro em disputar um segundo mandato consecutivo, seja por decisão pessoal ou impedimento legal, com o fim do famigerado instituto da reeleição.
Saltam aos olhos que Sérgio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato, e Hamilton Mourão, considerado o ponto de equilíbrio do governo, são os presidenciáveis mais fortes do bolsonarismo na sucessão de 2022.
Moro versus Mourão, com Bolsonaro fora do páreo, vai ser um bom, democrático, civilizado e imperdível embate. Quem sabe até os dois saindo candidatos, cada qual seguindo seu caminho se não houver um consenso.
Entre um livro jurídico e um sobre marketing político, é cada vez mais provável que Sérgio Moro prefira a leitura do último. Do contrário, vai ser “engolido” pelo general Mourão.