Meu amado leitor, hoje eu te convido a refletir comigo sobre uma sutileza perigosa, que vive camuflada no nosso dia a dia e nos pega de jeito, sem que a gente perceba. À primeira vista, parece inofensiva, até agradável. Mas quando a gente se dá conta, já está atolado até o pescoço. Falo daquela tendência nossa de buscar os atalhos, os prazeres instantâneos, os confortos imediatos — e de como eles nos tiram do rumo.
É curioso como o que nos destrói, muitas vezes, vem com sabor de delícia. Vem em forma de distração boba, de mais um episódio da série, de mais um scroll infinito nas redes sociais, de mais uma desculpa esfarrapada pra adiar o que importa. O caminho para o inferno, meu amado, não é uma estrada escura e sombria como nos contos de terror. Não! Ele é colorido, confortável, iluminado por telas brilhantes, temperado com gostosuras, conveniências e recompensas fáceis. E justamente por isso… é perigoso.
Enquanto isso, o caminho para o paraíso — aquele que leva ao nosso crescimento, à construção de uma vida com propósito, à paz interna — geralmente começa parecendo o contrário. É duro. Exige renúncia, exige disciplina, exige olhar no espelho e lidar com nossas sombras. É a escolha de levantar cedo para fazer o que precisa ser feito. É o não ao prazer imediato em nome do sim para um futuro mais inteiro, mais nosso.
Quantas vezes você já se propôs a algo importante e, de repente, foi engolido por distrações? Quantos planos deixados de lado porque o sofá estava mais convidativo? Quantos sonhos adiados porque o prazer do agora gritou mais alto que a sabedoria do depois?
E eu não falo aqui de uma lógica cruel de sacrifício eterno ou de uma vida sem alegria. Pelo contrário! A vida é feita de delícias, sim. Mas quando a gente vive só por elas, sem estrutura, sem base, sem propósito, aquilo que era doce vira veneno. Como escrevi certa vez, só buscar o prazer é encontrar a frustração.
Repare, meu querido ser de luz: a vida adulta exige de nós escolhas conscientes. Exige assumir responsabilidade sobre a própria história, como quem se dispõe a contá-la em primeira pessoa. Exige dizer não ao que seduz, para poder dizer sim ao que edifica.
E isso exige confiar. Confiar que, mesmo quando o caminho é íngreme, mesmo quando dói, é ele que nos leva ao que realmente vale. Confiar na vida, no processo, e sobretudo em si mesmo.
Não é à toa que tantas vezes nos perdemos nas distrações do caminho. Elas não vêm com cara de sabotagem — vêm com cheiro de alívio, com gosto de conforto, com a ilusão de que estamos vivendo, quando na verdade estamos apenas adiando.
O verdadeiro paraíso não é feito de facilidades. É feito de escolhas. Escolhas difíceis, mas verdadeiras. É construído tijolinho por tijolinho, com esforço, constância, e uma boa dose de amor próprio. Porque amar a si mesmo também é isso: cuidar da própria trajetória, proteger seus sonhos das tentações que os corroem.
Então, meu amado leitor, que a gente aprenda a desconfiar dos caminhos fáceis demais. Que não nos deixemos seduzir por aquilo que parece bom agora, mas nos rouba o que poderia ser extraordinário depois. E que, diante da próxima distração tentadora, a gente se lembre: o inferno também tem wi-fi, comida gostosa, sofá confortável e um monte de likes.
Só não tem paz.
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito