Esses dias estava conversando com uma amiga muito querida e falávamos sobre como a gente cria expectativas nessa vida, especialmente quando o assunto é relacionamento. Seja ele de amizade, afetivo, amoroso; nas relações interpessoais como um todo. E aí depois eu fiquei me perguntando o que nos leva a criar toda essa atmosfera de espera, de anseio. Que dificuldade é essa que temos de viver o aqui, o agora, este momento? Precisamos sempre estar com o pensamento lá na frente, pensando nas mil e umas possíveis resoluções que uma situação pode ter e nas mil e uma reações que teremos caso cada uma das mil e uma possíveis resoluções aconteçam.
Eita! Calma aí! Respira!
Expectativa nada mais é do que aquela projeção que fazemos sobre uma determinada situação, é esperar a ocorrência de algo – ou estimar sua probabilidade de ocorrência. É centrar-se no futuro, se baseando em alguma coisa que pode ser realista ou não. É colocar toda a sua atenção na resposta do outro, no reconhecimento do outro, no comportamento do outro. E aí quando o resultado não nos agrada ou não sai como imaginamos, dá origem a sensação de decepção, de frustração. Tem uma frase que diz que a expectativa é a mãe da ilusão e avó da frustração. E, na minha humilde opinião, isso é bem verdade. Quando a gente cria expectativa em relação a qualquer coisa que seja, criamos todo um cenário em nossa mente. Idealizamos, fantasiamos, criamos, de fato, uma ilusão. Observe. São raras as vezes em que depositamos expectativa em alguma coisa e a coisa sai e-x-a-t-a-m-e-n-t-e da forma que imaginamos. E isso se dá porque somos seres, por natureza, altamente incompletos e cheios de lacunas; daí quando criamos qualquer tipo de cenário, na grande maioria das vezes, encontramos algum pedacinho que poderia ter saído melhor. Foi bom, mas… damos um jeitinho de buscar o que não saiu como queríamos. E o que surge? A frustração. Porque, vamos imaginar, dos 10 itens que coloquei na minha expectativa, 9 foram cumpridos e 1 ficou pendente. A gente se amarra nesse 1! Creia, você não está sozinho nessa não, meu querido leitor!
Mas, o fato é: por que a gente cria tanta expectativa?
Eu, particularmente, percebo dois movimentos. A projeção que fazemos no outro e a carência emocional, afetiva que todos nós possuímos. Quantas vezes nos decepcionamos, nos frustramos porque esperávamos que uma pessoa agisse como nós queríamos que ela agisse? Ou porque alguém agiu de determinada forma que você jamais agiria? Observe como todas essas perguntas giram em torno de você. Você esperava que agisse diferente, você não agiria daquela forma. A maneira como a gente enxerga a vida é com base nas nossas vivências, nos nossos filtros, nas nossas lentes. Ninguém enxerga a realidade como ela é. A gente enxerga a realidade através dos nossos olhos. Cada um enxerga de uma forma diferente, porque cada um de nós viveu, vivenciou, criou as lentes de forma diferente. Então como vamos criar expectativa em cima do comportamento de uma outra pessoa? A gente tende a medir tudo pela nossa régua, a olhar o mundo de acordo com a nossa perspectiva. Perceba, você aí que me lê neste exato momento, o quanto criamos e inventamos situações, comportamentos e pessoas baseados em nossos próprios filtros; o quanto nos frustramos porque esquecemos do simples fato de que pessoas são diferentes, agem diferente, pensam diferente. O quanto nos frustramos porque queremos igualar todo mundo aos nossos padrões. E são apenas nossos padrões, a forma como vemos e encaramos o mundo e que, necessariamente, não precisa ser igual aos de outras pessoas. Entende?
Mas aí, também, já entramos na perspectiva da carência emocional, afetiva. E vemos isso, especialmente, nos relacionamentos amorosos. O quanto a gente cria expectativa de que o outro supra nossos desejos, preencha os nossos espaços, nos faça feliz. O quanto desejamos ser amados, cuidados, olhados, lembrados. O quanto desejamos ser importante na vida de alguém revela muito sobre as expectativas que criamos. E, muitas vezes, a ilusão que criamos. Porque o nosso desejo de ser amado é tão latente, que nos baseamos em pequenos gestos do outro, em nuances e, nesse mundo digital, nas curtidas, nas olhadas nos stories, nos comentários. Nos agarramos a essas pequenas coisas para criar expectativas, ilusões, cenários.
Mas chego a uma conclusão com tudo isso, meu caro leitor. Não há como viver sem criar expectativas. Todos nós fazemos planos, sonhamos, imaginamos melhores situações e depositamos energia em tudo isso; inevitavelmente criamos expectativas. Porém-contudo-entretanto-todavia, acredito que o limiar da história seja confiar, sabe? Confiar que tudo que nos acontece não é por acaso. Que tudo traz um aprendizado, uma lição, um ensinamento. Que se algo não sai como desejamos, se alguém não age como esperamos, se tal relacionamento não acontece tudo isso diz muito mais sobre nós mesmos. A expectativa que criamos revela quem somos. E com essa observação de nós mesmos, vamos caminhando em direção à compreensão de que cada pessoa age de uma forma, que ninguém é obrigado a nos amar, que ninguém é obrigado a estar conosco.
Toda vez que criar uma expectativa, olhe para ela.
É uma grande oportunidade de conhecer você mesmo.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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