“Senadorzeco”



Renan Calheiros resolveu esbravejar: “um juizeco de primeira instância não pode, a qualquer momento, atentar contra um poder. Um chefete de polícia travestido de ministro da Justiça não deve prestigiar uma Polícia Federal que cumpre ordem judicial que desconsidera a invulnerabilidade do Senado”. O “senadorzeco”, Renan Calheiros, está com medo.

Aqueles que são mais próximos avaliam que Renan, em geral sempre muito frio e calculista, desta vez, demonstrando apreensão frente às varreduras da Polícia Federal, ligadas à Operação Metas, está morrendo de medo, por isso mesmo ele foi muito mais agressivo e ainda muito mais canalha do que o de costume. Renan, lamentavelmente, ainda preside o Senado federal. Mas deve ter se esquecido que seu amiguinho de trapalhadas e esconde-esconde, Ricardo Lewandowski, não mais presidia o Supremo Tribunal Federal (STF).

Lewandowski foi aquele que ajudou Renan a rasgar a Constituição quando do julgamento do impeachment de Dilma e manteve por três anos, engavetado, uma denúncia em que Renan é acusado de bancar as despesas de uma filha que teve fora do casamento, pagando a pensão e outras despesas, com dinheiro da propina vinda da construtora Mendes Júnior. Renan, enfim, quebrou a cara. Melhor: lascou a cara, porque cara de pau não quebra.

O “senadorzeco” se deu mal porque quem, atualmente, preside o STF é a ministra Cármen Lúcia. Sem se referir diretamente a Renan, Carmen Lúcia deu um show de educação democrática institucional: “Numa democracia, o juiz é essencial, como são essenciais os membros de todos os outros poderes, que nós respeitamos. Exigimos o mesmo e igual respeito para que a gente tenha democracia fundada nos princípios constitucionais. Todas as vezes que um juiz é agredido, eu e cada um de nós juízes é agredido. Espero que isso não seja esquecido por ninguém, porque nós juízes não temos nos esquecido disso.”

A presidente do Supremo, de passagem, também deu uma lição no Michel Temer. O presidente Temer teve o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, chamado de “chefete de polícia” e se calou. Das duas uma: ou ministro é mesmo um “chefete de polícia” e aí Temer deveria demiti-lo por incompatibilidade com o cargo, ou então parte pra cima do Renan e defende com a mesma autoridade da ministra Carmen Lúcia o seu ministro. Mas Temer, dizem os analistas, preferiu orientar o ministro a engolir a desdita de Renan, porque precisa do apoio dele para aprovar a PEC 241. Política não é ficção!

Em seu artigo, “Por que o Brasil continuará sendo um país corrupto”, o professor universitário e Procurador Regional da República, em Brasília, Paulo Queiroz escreveu: “… o povo brasileiro acredita ser livre, mas está enganado: é livre apenas durante as eleições dos membros do Executivo e do Parlamento, pois, eleitos os seus membros, ele volta à escravidão, é um nada (Rousseau); é que a participação popular se limita ao sufrágio a cada quatro anos; mas eleitos “seus” representantes, não se tem qualquer controle sobre seus atos, e o cidadão, convertido em objeto e não sujeito da política, só poderá expressar sua indignação nas eleições seguintes… O Brasil é e continuará sendo um país corrupto simplesmente porque está estruturado para sê-lo!

O Brasil, enfim, é uma lástima!

Cláudio Zumaeta – Historiador graduado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Ilhéus –BA) Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL, Salvador – BA). Especialista em História do Brasil (UESC, Ilhéus – BA). Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL).