Várias queixas…


Mariana Benedito*: ““Por medo de sermos mal interpretados ao expressar o que precisamos, optamos pela reclamação, pela fala infectada de raiva”


 

Aos mais velhos que acompanham esta coluna, eu vou explicar. Aparece na internet um monte de gíria e formas de linguagem por dia. E, há algum tempo, circula a expressão “várias queixas” para designar quando a gente tem uma lista de insatisfações sobre alguma coisa. Nada muito fora do óbvio, mas virou modinha. Eis que eu estava cá pensando com meus botões e cachos sobre o quanto que a gente vive espalhando queixumes por esse mundão de meu Deus, meu amadíssimo leitor.

As queixas são uma forma passivo-agressiva de lidar com a vida e a realidade. Elas não são tão evidentes e explosivas e derrubadoras de montanhas quanto as demonstrações de raiva e fúria. São mais sutis, e daí acaba ficando um pouco mais difícil identificar quando a gente entra na barca delas. Mas eu acredito que um passo importante é aceitar que nós temos natureza e comportamentos passivo-agressivos, entende? Somos humanos, não é mesmo? E está tudo certo, não é uma coisa de que a gente precise se envergonhar ou enfiar a cara na terra igual avestruz, não. Mas é necessário se dar conta disso.

Queixas nascem da vitimização e dos ressentimentos que não foram ditos, expressos, manifestos. E, com uma facilidade fora de série, elas se transformam em algo muito maior, num poço de rancor que sai contaminando tudo; porque quando a gente inicia a lista das queixas, buscamos aliados que nos alimentem e incentivem a continuar naquele movimento. Aí junta as nossas queixas às queixas do outro, misericórdia! É reclamação e fofoca para tudo que é lado!

Mas a grande pergunta que eu deixo aqui para você, amado ser de luz que me lê aí do outro lado, é: o que a gente ganha com tudo isso? Se queixar de forma deliberada, raivosa resolve a questão? Colocar para fora é importante, concordo. Mas só vomitar sua insatisfação, sem buscar entender e identificar as raízes do medo, da tristeza, da raiva que estão por trás de tudo isso não levam a lugar nenhum.

A partir do momento em que passamos a expressar nossas necessidades, sentimentos, inseguranças de forma clara, vamos tirando a corda das queixas lamuriosas e, de quebra, ofertamos ao “alvo” de nossas reclamações a oportunidade de nos ajudar a solucionar nossas questões. É uma outra energia que rola, você consegue perceber?

Pois bem, meu caro, fato é que a gente reclama demais. Já pensou nisso? Por medo de sermos mal interpretados pelos outros ao expressar o que precisamos, optamos pela reclamação, pela queixa, pela fala infectada de raiva. É até mesmo uma defesa, não deixa de ser. Mas também não deixa de nos distanciar de quem amamos e de viver a vida com mais leveza.

Hoje, meu amado leitor, eu te convido a passar um dia sem reclamar. E, em um próximo passo, expressar nossos sentimentos e emoções e necessidades de forma mais clara. Essa é prosa para uma próxima coluna…

Mas vamos desamarrar essa cara, botar um sorriso no rosto e cessar as várias queixas.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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