Você não é especial


Mariana Benedito: “Entender (...) nos tira o peso de sermos perfeitos”


 

Uma das coisas mais difíceis, e igualmente libertadoras, que eu ouvi nos últimos tempos foi que eu não sou especial.

E eu te digo a mesma coisa, meu amado leitor. Você não é especial. Você não é o único ser humano na face deste planeta Terra, em meio a outros 7 bilhões de outros seres, que sente as coisas que você sente, que pensa as coisas que você pensa, que deseja as coisas que você deseja. Por mais que exista um universo de variáveis dentro de cada um de nós, no fundo, sofremos e sentimos e pensamos e queremos as mesmas coisas.

Todo mundo sente medo, vergonha, culpa, frio na barriga, insegurança. Nem se iluda achando que sentir tudo isso é exclusividade sua, meu caro. Todas as 7 bilhões de pessoas deste planetão têm dificuldades e limitações. Todos nós temos motivos diários para nos arrepender, para agradecer, para aprender com os erros. Pois é, meu querido unicórnio, nem você nem eu e nem ninguém é especial. O negócio é identificar a sua humanidade em comum com todas as outras pessoas.

Entender a nossa normalidade e humanidade nos tira dos ombros o peso de sermos perfeitos; a gente passa a enxergar e lidar de forma clara com a realidade. Aquilo que é aqui e agora. O que é real, sem fantasia. E isso não quer dizer se acomodar, obviamente.

Se incluir no grupo da humanidade possibilita que a gente não se separe. Parece óbvio, mas repare, me acompanhe aqui no raciocínio: até mesmo quando nos sentimos separados, excluídos, culpados estamos, de certa forma, também nos colocando no lugar de especiais.

Quantas vezes você, amado ser que me lê aí do outro lado, já esbravejou aos quatro cantos do mundo que seus problemas eram os mais difíceis, que sua dor era a mais dolorida, que sua história era a mais sofrida, que seus dilemas eram os mais densos? Pois é. E eu repito mais uma vez, para você internalizar direitinho: você não é especial. A vida acontece para todo mundo! E, te digo mais uma coisinha: existe um mundo que continua a girar, independente da nossa vontade. Ou seja, meu amado ser de luz, o mundo precisa e continua a girar, independente das suas queixas.

A grande questão aí é abraçar a nossa humanidade, entender que a vida se desenrola para todo mundo e, como já nos disse Guimarães Rosa, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. Isso é ser humano. Entender que o fundamental é a gente parar com a reclamação de que o mundo e as pessoas são errados, injustos e te devem alguma coisa e passar para o patamar de viver uma vida ordinária. É isso mesmo. Viver uma vida comum! Sabendo que existem espinhos e percalços, como na vida de todo mundo, e seguir adiante.

Assumindo a tarefa de construir o melhor que pudermos para nós e para quem nos cerca. Saber que somos responsáveis por nós mesmos.

Nos apropriar de nós e da nossa normalidade.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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