Se a gente for parar para pensar bem, meu amado leitor, o medo foi o que possibilitou que estejamos aqui. É isso mesmo. O medo possibilitou o desenvolvimento da espécie humana na face deste mundo chamado Terra. O medo é uma das quatro emoções básicas presentes em qualquer ser humano – as outras são alegria, tristeza e raiva. O medo acelera o coração, aumenta o fluxo respiratório que entrega a energia necessária para os músculos do nosso corpo responderem e funcionarem de duas únicas maneiras: fugindo ou lutando. Ou você enfrenta ou você corre. É fisiológico. E é, a partir da sensação de medo, que você precisa fazer algo, qualquer coisa, menos ficar parado. Daí o senso de sobrevivência. Foi essa resposta de fugir ou de lutar que proporcionou aos homens das cavernas correrem em debandada para se proteger dos predadores e nós estarmos aqui. Eu escrevendo esta coluna e você lendo.
A questão – e grande problema – é que, ao longo da existência humana, o medo passou de resposta física, para uma resposta mental, ao contexto das relações. O medo passou a se instalar na nossa mente, a povoar nossos pensamentos gritando o que pode vir a acontecer e, ainda para agravar e nos apavorar mais, baseados em experiências do passado e em nossa própria imaginação, que viaja desenhando os cenários mais catastróficos, caóticos e apocalípticos.
O medo é, hoje, um dos principais motivos que levam as pessoas a continuarem – e se manterem – em situações altamente desagradáveis, desconfortáveis, desfavoráveis; em verdadeiras zonas de conforto sem conforto nenhum. O medo que paralisa, aquele estágio em que você não luta e nem corre. A inércia que paralisa e te impossibilita de fazer a mudança necessária porque sua cabeça está gritando mil quatrocentas e vinte e três possibilidades diferentes, todas ruins. O medo que emperra a atitude. Porque é preferível se manter em algo conhecido, mesmo que seja doloroso e prejudicial, a arriscar o novo, atirar no desconhecido. Não se sabe o que existe do outro lado.
Entretanto, tudo isso não quer dizer que devamos ignorar os nossos medos e sair por aí agindo na loucura, entende? O principal papel e função do medo é evitar que a gente se machuque. Evitar o sofrimento, a dor, a ferida. O medo nos põe em estado de alerta sobre o perigo, nos impulsiona a agir com cautela, com segurança. A ideia é desvendar o que existe por trás do medo e não o abandonar. Sri Prem Baba, um líder espiritual, diz que o medo é um guardião que está sempre protegendo alguma coisa, e é justamente isso que precisa ser identificado, compreendido, aceito.
Não precisamos deixar de sentir medo. O que devemos – e podemos – fazer é ouvir o que ele tem a dizer. Ganhar ferramentas para encará-lo e seguir os passos adiante para construir uma vida com valor e propósito.
Você tem medo de quê?
– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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