PCdoB, a denúncia e a reeleição de Rui



Davidson Magalhães

* Marco Wense

O PCdoB tem razão de sobra para ficar magoado com o governador Rui Costa no episódio envolvendo a defenestração de Davidson Magalhães na votação da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB).

Davidson, além de ser o comandante estadual da legenda, sempre se mostrou parceiro do chefe do Executivo, até mesmo no silêncio diante da aliança com o prefeito Fernando Gomes, ainda filiado ao DEM.

Vale ressaltar que o comunista é uma das poucas lideranças de oposição ao governo municipal presentes nos encontros entre Rui e Fernando.

E mais: Davidson, sem nenhum tipo de constrangimento, faz questão de registrar a inusitada união tirando fotos do lado do governador e do prefeito.

Tiraram o “Fora Temer” da boca de Davidson. E deu no que deu: terminou Josias Gomes, seu substituto, antes programado para o “Fica Temer”, votando a favor da denúncia da PGR.

Toda a insatisfação do PCdoB foi externada no voto de Daniel Almeida: “Em nome do deputado Davidson Magalhães, que foi retirado dessa votação, e em meu nome, voto não”.

E quais as consequências desse reprovável gesto da cúpula do PT com o deputado Davidson Magalhães? A resposta é nenhuma. A sobrevivência política do PCdoB está nas mãos do petismo.

Além de Davidson ser suplente de Josias Gomes, podendo a qualquer momento deixar a Casa Legislativa, tem a sobrevivência política do próprio PCdoB, que não tem outra opção que não seja a de apoiar a reeleição de Rui.

Com efeito, só tinha um caminho para o PCdoB se afastar do PT: uma candidatura do senador Otto Alencar ao Palácio de Ondina. O parlamentar já descartou, de maneira até incisiva, essa possiblidade.

Aliás, nem mesmo os evidentes sinais de que ACM Neto poderia abrir mão de sua postulação para apoiá-lo, fizeram com que Otto recuasse da decisão em relação ao segundo mandato de Rui.

O PCdoB, sem nenhuma chance de integrar a chapa majoritária, vai ter que aceitar as imposições do PSD de Otto, do PR de José Carlos Araújo, do PP de João Leão e do próprio PT.

Geraldo, PT e os companheiros      

Geraldo Simões

Os companheiros do Partido dos Trabalhadores podem até criticar o ex-prefeito de Itabuna, Geraldo Simões de Oliveira, por alguns fatos políticos.

Entre as situações que marcaram a insatisfação com o ex-alcaide, a sua insistência no “projeto familiar” para comandar o Centro Administrativo foi a que mais desagradou o petismo.

Por duas vezes, Geraldo lançou sua esposa Juçara Feitosa para disputar a sucessão municipal, contrariando o então governador Jaques Wagner.

A perseguição ao ex-gestor, tendo na linha de frente Josias Gomes, hoje secretário estadual de Relações Institucionais, se deu por outro motivo.

Josias, que chegou a ser geraldista de carteirinha, sempre sonhou com a prefeitura de Itabuna. Mas nunca teve o apoio de Geraldo.

Sorrateiramente, Josias Gomes, usando a influência do cargo, começou a minar a liderança de Geraldo no sul da Bahia, mais especificamente em Itabuna.

Não satisfeitos com as maldades, agora começam a espalhar que a rebeldia de Geraldo com a aliança entre Rui Costa e Fernando Gomes é só por pouco tempo.

Insinuam que Geraldo vai deixar de fazer oposição ao governo municipal assim que for nomeado para o primeiro escalão do governo Rui.

Com efeito, Geraldo Simões é o único petista, no rol dos graúdos, que se mantém na trincheira de não aceitar essa estranha e inusitada aproximação, cada vez mais intensa.

Falem o que quiser do ex-prefeito de Itabuna, que ele é isso e aquilo. Só não podem falar que Geraldo é incoerente, traidor e oportunista de plantão.

O agradecimento de Aleluia

O deputado José Carlos Aleluia, na sessão da Câmara para votar a admissibilidade ou não da denúncia contra o presidente Michel Temer, fez um agradecimento ao governador Rui Costa (PT).

“O governador Rui Costa, em um momento de lucidez, pensando no melhor para o Brasil, liberou dois secretários para votar a favor do presidente”, disse o comandante estadual do DEM.

Os dois homens de confiança de Rui, liberados para a votação na Casa Legislativa, são Josias Gomes (Relações Institucionais-PT) e Fernando Torres (Desenvolvimento Urbano-PSD).

A dúvida ficou na verdadeira intenção de Aleluia. Ou seja, se o aliado do prefeito ACM Neto agradeceu de verdade ou se foi um deboche, uma provocação.

Só faltou Aleluia dizer que o governador Rui Costa foi um grande “companheiro”.

O segundo toma-lá-dá-cá

Os defensores do presidente Michel Temer na CCJ da Câmara dos Deputados já estão de olho na segunda denúncia contra o chefe do Executivo, que deve acontecer ainda neste mês de agosto.

Agora é uma nova negociação, obviamente mais vantajosa, já que o preço pelo desgaste de apoiar um presidente com mais de 90% de rejeição pode custar o mandato.

É assim que caminha a República Federativa do Brasil, cada vez mais chafurdada na lama, no vergonhoso toma-lá-dá-cá.

São todos inocentes

Esse corporativismo do Congresso Nacional me faz lembrar dos Três Mosqueteiros, do “um por todos e todos por um” na defesa do rei Luiz XIII.

Deixando de fora alguns parlamentares, presenciamos nas duas Casas Legislativas – Câmara dos Deputados e o Senado da República –, um “mosqueteirismo” ao modo brasileiro.

No nosso caso, sendo cúmplice da corrupção e instrumento a favor da impunidade, que continua debochando de tudo e de todos.

Até agora, nada. Ou seja, mais de 200 representantes do povo citados nas delações premiadas, sendo investigados pela Polícia Federal, e o silêncio é ensurdecedor.

Nenhum processo foi aberto pelos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado. Um corporativismo sujo, digno de uma republiqueta.

Cada vez mais juntos

A aproximação do PT com o DEM fica cada vez mais intensa. Depois do prefeito Fernando Gomes, vem agora José Ronaldo, alcaide de Feira de Santana.

Em relação ao ex-inimigo número 1 do PT, vale a ressalva de que a culpa pela inusitada aliança foi de ACM Neto, na sua indecisão de apoiar FG na última sucessão municipal.

ACM Neto queria que o fernandismo e a então presidente do DEM de Itabuna, Maria Alice, apoiassem o tucano Augusto Castro em detrimento de Fernando Gomes.

Agora, a cúpula do PT quer que o ex-presidente Lula tenha uma conversa com José Ronaldo, aliado de ACM Neto. O PR é o encarregado de promover o encontro.

Na minha modesta opinião, o gestor de Feira de Santana, que fica nesse vai-não-vai – durante o dia é ACM Neto e pela noite Rui Costa – vai terminar se queimando.

O saudoso Leonel de Moura Brizola dizia, e com toda razão, que “a política ama a traição e abomina o traidor”.