Somos instantes.
E num instante, não somos nada.
É assustador pensar que eu estou aqui, neste momento, escrevendo esta coluna e daqui a pouco posso não estar aqui mais. Da mesma forma que você, amado leitor, está lendo neste instante e no próximo pode não estar aqui mais. É assustador, mas chama a gente para a maior realidade de todas: a morte. E pensar na morte nos proporciona pensar na vida.
Todos nós sabemos de cor e salteado, de trás pra frente, de cima pra baixo que a maior certeza dessa vida é que todos deixaremos essa existência um dia. Mas a gente vive como se não soubesse. E é nos momentos em que a morte, a ausência, a perda gritam que a gente leva aquele choque de realidade. Fico me questionando o quê o Universo quer que a gente veja, compreenda e aprenda com essas sucessivas perdas que estamos sofrendo. Os quatro elementos nos chamando a atenção para alguma coisa. Terra em Brumadinho. Água no Rio. Fogo no Rio. Ar na morte de Boechat. A Vida está nos clamando lições, percepções, mudanças de perspectiva.
E eu te pergunto: o que estamos fazendo com as nossas vidas?
A gente está vivendo cada dia dessa existência em prol de quê, mesmo? A gente está buscando o quê? A gente corre tanto pra quê? A gente está construindo o quê? Qual o legado que estamos deixando nesse mundão de Deus? E legado é cada dia. Cada atitude, cada ação, cada pensamento, cada palavra, cada olhar, cada intenção. Legado não é uma obra grandiosa, de renome, de alta visibilidade. Legado é aquilo que a gente planta, semeia, espalha, irradia, multiplica, compartilha a cada instante de nossas vidas.
O quê estamos fazendo com nossas vidas?
Estamos vivendo como se fôssemos humanamente imortais e tivéssemos todo o tempo do mundo. Me perdoe te desapontar, mas não temos. A dádiva da vida é o agora e o aqui, já diz uma música que eu gosto muito. Imagina só se a gente vivesse como se fosse morrer. E isso não é algo fúnebre, querido leitor. Muito pelo contrário, é um chamado de vida! O quanto a gente desperdiça o tempo que tem aqui, na face desse planeta chamado Terra, com tanta coisa pequena? Em uma busca desenfreada pelo poder, pelo status, pela ostentação, pela aparência. Em brigas e discussões que levam ninguém a lugar nenhum. Em continuar construindo muros que nos distanciam uns dos outros. E mais, muros que nos distanciam de nós mesmos. Até quando? A gente não tem a vida toda.
Somos instantes. E a vida é feita desses mesmos instantes.
Podemos escolher aquilo que colocamos nossa atenção. Podemos mudar de rota. Podemos optar em parar de lutar. Afinal de contas, a gente luta tanto pelo quê, de fato? Provar o quê para quem? Vencer o quê?
Acredito que o grande aprendizado que esse ano – já cheio de tragédias – nos traz é para não deixarmos o bem, o amor, a gentileza, o cuidado, a presença, o carinho, o afeto, a empatia, a ternura para depois.
Somos instantes.
E num instante não somos nada.
A vida é um sopro.
Viva lembrando disso, a cada instante.
– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
E-mail: [email protected]