Artigo de João Otávio Macedo – O LEGADO DE MOMO


"Acredito que as prefeituras poderiam realizar um carnaval bem simples, mas muito bem frequentado"


Estamos nos dias que antecedem a maior festa popular do Brasil e, quiçá, do mundo: O Carnaval. Esses festejos foram trazidos pelos povos da península ibérica e tiveram início na então capital do Império, o Rio de Janeiro, inicialmente com umas brincadeiras de mau gosto, conhecidas como “Entrudo”, que se constituíram no embrião das futuras folias momescas. Sem dúvida alguma, as raízes do carnaval estão fincadas na bela cidade do Rio de Janeiro, daí se irradiando para outras capitais e cidades importantes e tem, ao longo do tempo, sofrido as transformações naturais, até chegar aos nossos dias.

O carnaval foi, no seu início, festa popular de rua e as agremiações foram naturalmente se formando e constituindo os blocos, os cordões até chegar ao que conhecemos, nos dias de hoje, como as famosas escolas de samba que, para alguns, perderam, um pouco, da essência do verdadeiro carnaval, passando a ser mais um desfile para os turistas que para aqui vêm e um local de destaque para artistas e ricaços que estão atrás de notoriedade.

Acredito que o melhor do carnaval tenha ocorrido no Rio de Janeiro e, depois, em outras cidades, nos anos 40/50, com a “explosão” das famosas marchinhas, numa época em que a televisão ainda não havia chegado e as rádios eram as grandes difusoras do que então se produzia; as marchinhas começavam a ser tocadas nas rádios por volta do novembro /dezembro do ano que se findava, na voz de cantores, cantoras e grupos musicais famosos e, por terem uma letrinha fácil, eram facilmente decoradas por boa parte da população que iria cantá-las nas ruas e, principalmente nos salões dos clubes, onde a festa se desenrolava nos quatro dias, com salões enfeitados por confetes e serpentinas e sob o vapor que saía dos lança-perfumes. O pesquisador que mergulhar no mundo das marchinhas de carnaval terá uma síntese do que ocorria no Brasil e, principalmente, na capital da República. Compositores famosos como Nássara, Luiz Antonio, Benedito Lacerda e duplas como Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, Paquito e Romeu Gentil, Ataulfo Alves, David Nasser e Alcyr Pires Vermelho, todos deram a sua valiosa contribuição no enriquecimento do universo musical do carnaval. O povo cantava as marchinhas nos salões do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no Copacabana Palace, Hotel Glória, Clubes como Monte Líbano e Sírio Libanês e outros, e o resto do país aguardava os jornais e revistas do pós-carnaval para ver – e invejar – os famosos bailes da capital da República.

Na nossa Itabuna a situação não era muito diferente e grandes bailes de carnaval foram realizados nos salões do Itabuna Club e do Grapiúna Tenis Club, além do concorrido carnaval de rua, com desfiles de batucadas, afoxés, blocos, charangas, que realizavam um carnaval que só deixou saudades. Outro dia estava me lembrando de algumas organizações, conhecidas como batucadas, com os componentes tocando pandeiro, prato, reco-reco, agogô, cuíca, tamborim, chocalho, repique, surdo, caixa e outros aparelhos musicais, todos fardados e em passos bem cadenciados desfilavam pelas nossas ruas. Parece que estou vendo os irmãos Rodrigues, funcionários da Prefeitura e frequentadores assíduos dessas batucadas.

Acredito que as prefeituras poderiam realizar um carnaval bem simples, mas muito bem frequentado, caso estimulassem essas organizações que, na sua maioria, nascem nos bairros e exigem pouca coisa. O gasto seria o mínimo e não se teria de contratar, a peso de ouro, cantores, cantoras e bandas consagradas, mas que levem vultosas quantias dos cofres públicos. É um assunto que poderia ser pensado pelos dirigentes e os que se preocupam em levar a alegria ao povo. Afinal, Momo é alegria e quer que todos participem desse estado de espírito.