É uma pergunta simples, objetiva e até mesmo clichê, amado leitor. E todo mundo, num piscar de olhos, responde: ter paz. Mas será mesmo que a gente segue esta opção?
Quantas vezes ainda precisamos provar que estamos certos? Quantas vezes ainda precisamos brigar por um ponto de vista? Quantas vezes ainda precisamos nos apoiar num ego fragilizado, demonstrando ser aquilo que não é? E uma coisa que eu aprendi, querido leitor, e que eu divido com você aqui, é que as pessoas entendem e enxergam e vivem a vida de acordo com as suas próprias experiências.
O juízo de valor que fazemos, a forma como interpretamos uma situação, o julgamento que fazemos refletem, unicamente, o que somos. Não existe verdade absoluta e nem razão absoluta. A mesma situação é vista de diferentes formas, dependendo somente das lentes de que vê. Na Psicanálise existe um termo chamado realidade interna ou psíquica, que aborda exatamente que a maneira como interpretamos qualquer coisa em nossas vidas está ligada diretamente à forma que dividimos, separamos, categorizamos as nossas caixinhas.
Avalie. Digamos que você, que me lê aí neste momento, recebeu a triste notícia de que a tia de um amigo muito próximo acabara de falecer. Seu amigo está em frangalhos! Profundamente abalado e sem chão. Você, claro, se solidariza ao momento de dificuldade, mas não compreende como a perda de uma tia pode desestabilizar daquela maneira uma pessoa. Os dois irmãos de seu pai se mudaram para outro país e você não chegou sequer a conhecê-los, ao passo que sua mãe é filha única. Óbvio que você não entenderia! Por mais que você sinta empatia, acolha e se faça presente ao seu amigo neste momento, você não tem registrado nas suas caixinhas a presença e importância de uma tia na sua vida. É a sua experiência, é a sua vivência.
Então, de que forma a gente pode querer ditar e impor aos outros o quê sentir, o quê pensar, o quê fazer? Nas mais variadas vezes em que defendemos veementemente um ponto de vista, uma opinião e buscamos os mais robustos e embasados argumentos para fazer com que o outro mude de postura, esquecemos que se o outro pensa daquela maneira, é porque aquela maneira, do ângulo que ele escolheu enxergar, faz sentido para ele. É a forma como ele interpreta.
Aí eu te pergunto, amado leitor: por que ter razão é tão importante? Ou melhor, ter razão é importante a partir de qual perspectiva? De mostrar que tem mais conhecimento, da ilusão que é superior, do status, da prepotência, da arrogância, de não poder dar o braço a torcer? Para quê? Até porque você pode gastar todo o seu latim tentando fazer alguém enxergar uma determinada situação por um outro ponto de vista; se a pessoa estiver convicta, totalmente fechada e não quiser mudar de opinião, ela não vai! Você vai estar dando murro em ponta de faca, lamento te informar.
E o que é estar em paz? Quando sabemos o que somos – no contexto todinho de luzes e sombras –, quando compreendemos que a opinião do outro diz sobre as suas próprias experiências e entendemos que não precisamos ser os salvadores da pátria, todo esse desgaste de energia para estar sempre certo perde o sentido.
Repare como é, de fato, um desgaste.
Vale mesmo a pena?
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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