A única certeza que a gente tem nessa vida, meu amado leitor, é de que tudo muda. O que a gente tem de imutável é justamente a mudança. Tudo se movimenta, tudo se renova, tudo começa, tudo termina e tudo recomeça. É o eterno ciclo de vida-morte-vida.
Agora eu te pergunto, por que a gente tem tanto medo da mudança? Por que arriscar, se lançar no novo é tão difícil? E, mais do que isso, por que a dificuldade em fechar ciclos? Existem finais que são necessários, por mais incômodo, dor, desconforto que possam trazer. Ninguém inicia um projeto, um relacionamento, um trabalho pensando no dia que vai colocar um ponto final. A gente vai construindo, fazendo o melhor que pode, com as ferramentas que tem, se colocando à disposição do outro, errando, acertando e segue em frente fazendo com que aquilo tudo dê certo. Mas, muitas vezes, chega um instante que não dá mais para seguir adiante: o coração aperta, o espaço não te cabe mais, vem a sensação de nadar e nadar e nadar e nunca chegar em lugar seguro, vem aquele grito mudo entalado na garganta. E a cabeça começa a questionar os porquês de insistir naquele plano, naquele caminho, naquela relação, naquela direção.
Lógico que a gente não deve desistir na primeira dificuldade, muito pelo contrário! É na adversidade que a gente amadurece. É no erro que a gente percebe que pode fazer diferente. É na dificuldade que a gente descobre que tem forças que nem fazia ideia que tinha. Mas, meu caro, quando começa a doer, quando começa a sufocar, quando começa a não mais fazer sentido, pode ter chegado a hora de encerrar esse ciclo. Eu acredito que a gente tem dificuldade em colocar pontos finais justamente por esta sensação de tentar mais um pouco, dar mais um passo. E existe também, socialmente falando, a errônea ideia de que encerrar ciclos é sinônimo de fraqueza, é assumir que fracassou de alguma forma. O que a nossa cabeça grita é: eu não dei conta, eu não fui capaz, eu não consegui manter e fazer valer.
E nem sempre as coisas funcionam desta forma, meu querido ser que me lê aí do outro lado. Muitas vezes a gente precisa de voos mais altos, espaços maiores, possibilidades que sintonizem com o que quer deixar de legado nesta vida, caminhos que nos levem em direção ao que acreditamos que seja nosso propósito e que nos permitam fazer aquilo que temos talento e aptidão.
Encerrar ciclos é difícil porque temos a tendência de nos diminuir, de achar que o espaço já não nos cabe mais, se a gente se ajeitar com jeitinho e deixar de apertar a perna para apertar o braço, fica tudo certo. E eu te digo que não precisa ser desconfortável para valer a pena. Não precisa ter o tom de sacrifício para ser honrado. Não precisa cortar na carne para ser valorizado.
Eu, particularmente, acredito muito no que a gente sente. Acredito verdadeiramente que todo mundo possui uma espécie de bússola interna que está sempre nos mostrando o caminho, sabe? Aquilo que faz o nosso coração vibrar, o que nos causa aquela sensação boa de borboletas no estômago, aquilo que é compatível com nossos valores, sonhos, desejos. Eu acredito que, no fundo, a gente sempre sabe por qual caminho deve seguir, só precisa calibrar essa bússola e ter coragem de segui-la.
Ter coragem de colocar pontos finais naquilo que nos machuca, no que não nos causa a sensação de estar fazendo algo com paixão e prazer. Ter coragem de encerrar ciclos com o sentimento de gratidão pelo que foi aprendido, vivenciado, compartilhado, as pessoas que chegaram, e não com o sentimento de fracasso.
Até porque, meu amado leitor, recomeçar é um ato de coragem!
– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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