Eu sei que as Redes Sociais – uma das principais ferramentas que a gente tem para se conectar com o outro durante esse período de isolamento – estão recheadas de gente ditando o que deve e o que não deve ser feito. Leia cinquenta livros. Faça um curso online a cada três dias. Arrume seu guarda-roupas, seu quarto, sua casa, sua vida. Faça treinos e atividade física em casa. Faça yoga pela manhã. Medite de noite. Mude seus hábitos. Seja produtivo. Tenha um bom rendimento. Regras, padrões, diretrizes, modelos e caixinhas. Mais uma vez.
E aí, meu amado leitor, meros mortais podem ver todas as coordenadas e se sentir unicamente culpados. É um momento difícil e atípico para todo mundo. Não é o momento de se cobrar tanto. A gente faz o que pode, da maneira que consegue, quando se sente mais confortável. Não é o momento de ninguém ditar regras e comportamentos. O que a gente pode – e é saudável – é se acolher. Nós mesmos e uns aos outros. A gente pode dividir com os amigos, com a rede o que temos feito e surtido efeito, o que estamos programando fazer, conversando sobre o que esse momento nos proporciona. Mas compreendendo que cada um sabe onde seu calo aperta.
E, caso você que me lê aí do outro lado neste momento, se sente culpado por não estar conseguindo ser tão produtivo, tão centrado, senta aqui. Me deixa pegar na tua mão. Eu entendo você. Estamos vivendo momentos nunca antes vividos e isso assusta. Eu sei. Mas, repare, deixa eu te falar uma coisa: todos nós sentimos culpa, vergonha, medo, raiva, dor, tristeza. Todos temos dificuldades e limitações. Todos nós erramos. Você não é especial ou diferente. Todos nós temos motivos diários para nos arrepender.
A gente tem essa falsa ideia de controle sobre nós, nossos planos, nossos projetos e sobre a vida. Olha como esse momento está nos possibilitando perceber que não temos controle por completo em nada nessa vida, meu bem. O que a gente pode fazer é oferecer o nosso melhor dentro do que podemos agora. Oferecer o melhor para nós dentro do que podemos agora. E se agora não podemos ser altamente produtivos, fazermos tudo e todos os cursos online e novas leituras, tudo certo!
Estamos passando por um momento, também, de mostrarmos para os outros o quão bem estamos lidando com tudo isso, por este isolamento, por esta quarentena, por esta pandemia. O perfeccionismo estabelece que a gente não pode errar, não pode falhar e costuma nos colocar metas não somente para nós mesmos, mas também para manter a imagem perfeita para os outros.
É difícil, de fato, deixar de fazer as coisas buscando a aprovação de fora – até porque a grande maioria de nós tem a ideia de que não podemos errar ou que precisamos ser perfeitos para ser bons e amados. Mas é necessário aprender a lidar com a culpa, meu caro leitor. Dizer sim a ela, se permitir ficar com você mesmo enquanto a sente. Sem querer fugir, sem querer passar por cima, sem se forçar a fazer aquilo que não está conseguindo no momento.
A culpa inviabiliza o momento presente, faz a gente se punir, se frustrar, se censurar, ficar remoendo internamente tudo que deveria ser e não foi. Ela nos faz superestimar as consequências de nossas ações, sentimentos e pensamentos, querendo nos convencer que nossos erros são maiores do que são.
Seja gentil com os outros nesse momento tão delicado.
Mas, fundamental e primeiramente, seja gentil com você mesmo, meu amadíssimo leitor.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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