Estamos cada vez mais conectados neste mundão virtual. Agora, durante a época de pandemia, então! Até porque a internet se transformou numa das principais ferramentas para a gente manter contato e proximidade com quem a gente ama, para manter a produtividade e os trabalhos funcionando e para se informar sobre o que acontece em nosso país e no mundo.
Mas repare, meu caro leitor, um movimento que eu percebi do lado de cá é que o desejo de me manter conectada estava despertando em mim um certo medo de perder alguma informação. Um desconforto em não participar de todos os grupos de WhatsApp e perder alguma conversa, alguma resenha, alguma interação. Justamente! O fato de a interação estar sendo feita, em grande parte, pelo contato em grupos virtuais, estava me deixando ansiosa a estar conectada vinte e quatro horas por dia. Repare que loucura!
Vou contar um caso para você, amado leitor. Dê um gole aí em seu chá – porque eu não tomo café e quero apresentar o mundo dos chás para todo mundo. Pois bem. Eu fazia parte de um grupo de WhatsApp que já não estava mantendo o foco inicial, muitas pessoas haviam chegado e aquele clima de intimidade de antes não existia mais. As brincadeiras e resenhas estavam caminhando para uma vertente que eu não concordava, que ia de encontro aos meus valores e quis sair do grupo porque já não via mais sentido naquilo tudo. Era só sair. Sim, eu sei. Mas eu fiquei adiando este simples ato porque eu estava receosa de perder o que acontecia ali. Consegue ver o paradoxo? Muito embora já não fizesse sentido para mim, eu tinha medo de estar perdendo algo. Agora durma com uma zuada dessa?
Uma grande amiga minha, verdadeira irmã, Juliana Pinheiro, que é praticamente coautora de vários artigos desta coluna porque nossas conversas são cheias de reflexões, insights e trocas valiosíssimas – além de bobagens, devaneios e risadas que é para manter o equilíbrio, não é não? – me enviou essa semana uma postagem de uma influencer falando sobre um conceito que, até então, eu não conhecia. Ela falava sobre o FoMO, uma sigla em inglês para o medo de estar perdendo algo. Fez todo o sentido! Agora veja, você que me lê aí do outro lado, até que ponto o nosso desejo por participar da vida online, estar conectado ao mundo virtual está nos colocando dependentes dessa interação?
Quantas vezes ao longo do dia a gente checa o Instagram, o WhatsApp, o Facebook para não perder nada do que está rolando por lá? Quanto a gente tem ficado com os olhos grudados no celular para não perder nenhum Stories ou para registrar tudo o que a gente faz e não ficar deslocado, um estranho no ninho? Quanto a gente tem buscado saber de tudo por medo de que os outros estejam mais inteirados que nós e ficar de fora?
Meu amado ser, a gente vem conversando bastante sobre humanidade aqui nesta coluna. Sobre normalizar comportamentos, emoções e aspectos naturais do SER humano. Pois então, não é possível participar de tudo, acompanhar tudo, ver tudo que acontece, saber de tudo sobre tudo. É humanamente impossível. Lidemos com essa realidade, pequeno unicórnio. E, meu querido leitor, se alienar um pouco é necessário. Se distanciar do bombardeio de informações é necessário. Colocar o foco em outras atividades é necessário. A interação é importante e saudável durante este período – e sempre! – mas colocar toda a nossa energia nisso, pende a balança para um lado só e o que a gente busca é o equilíbrio nesta corda bamba da vida, não é mesmo?
Sem contar que colocar toda a nossa atenção na timeline do Instagram, nos sites de notícias, nas conversas do WhatsApp nos distancia da coisa mais importante dessa vida: nós mesmos. Buscar saber de tudo ocupa o tempo para a gente sentir o que acontece dentro. Buscar se manter informado e conectado o tempo todo evita que a gente entre em contato com o tesouro mais valioso: os nossos sentimentos, emoções e sensações. O que a gente gosta, o que nos faz bem, o que nos nutre e alimenta, o que é essencial para nós.
A alienação é necessária também. Ficar offline também é saudável. Manter a nossa saúde mental e emocional é fundamental. Dar pausas é essencial.
Se desligue um pouco. Se desconecte.
Faça pelo menos o teste. Se permita a experiência para ver o que passa aí dentro.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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