Coluna de Mariana Benedito – Dê uma pausa


“A pérola nasce da dor da ostra, as folhas novas nascem depois que a árvore deixa ir as velhas”


 

 Charles Chaplin disse uma vez que a gente não deveria ter medo dos confrontos, porque até os planetas se chocam e é justamente desse caos que as estrelas nascem. Ouso acrescentar que esses confrontos são, na grande maioria das vezes, internos. Os dilemas que a gente carrega, aquele velho duelo dentro de nossas cabeças. Acredito que você já conseguiu entender minha referência, meu amado leitor.

E olhar de frente para esses conflitos, duelos e dilemas é um processo que dói. Dói! E muito. Entrar em contato com quem somos sem as máscaras que usamos, por mais que nos possibilite autonomia, é altamente desconcertante. E quantas vezes pensamos em desistir quando o calo aperta, quando parece que estamos descobrindo coisas estranhas sobre nós, quando parece que a história se repete e se repete e se repete e não conseguimos trocar o disco.

A gente pensa em desistir quando parece que estamos entrando em pane porque está tudo vindo à tona! Coisas que antes passavam despercebidas, agora são verdadeiros gigantes que atravessam à nossa frente. A gente pensa em desistir quando sentir a dor que a gente tanto escondeu é tão forte que dói no corpo. A gente pensa em desistir porque é desconfortável se desnudar, tirar as máscaras. A gente pensa em desistir quando bate a sensação de que não vamos conseguir, que é um caminho muito longo e muito difícil de percorrer.

A gente pensa tanto em desistir…

Mas repare que as grandes belezas da vida passam por momentos de dor, de desconforto. A borboleta precisa do casulo, o vinho precisa que as uvas sejam pisadas, a lagosta precisa da casca apertada, o diamante precisa da lapidação. A pérola nasce da dor da ostra, as folhas novas nascem depois que a árvore deixa ir as velhas.

Percebe? Estar num momento de dificuldade, de dor, de solidão em que a gente pensa em desistir é justamente o momento de maior transformação! Nenhuma mudança ou transformação é confortável, acredite. Mas quando tudo parecer estar desmoronando, é quando está sendo posto no lugar e se alinhando para algo bem maior e mais incrível. Para uma vida mais inteira logo ali na frente, bem depois que você virar a esquina; é porque você ainda não consegue avistar.

Viver uma vida estando aberto para as possibilidades e enfrentando a realidade é incrível, meu amado ser que me lê aí do outro lado. Mas a gente se esquece do processo de transformação e o quão árduo, desafiador, cheio de curvas e nuances ele é. O processo entre lagarta e borboleta. Entre semente e flor. E esse processo tem um apelido, sabia? E é VIDA.

E a vida também é feita de pausas. Pausa para respirar, para apreciar algo que gosta, para descansar, para recarregar as energias. Muitas vezes a vontade de desistir, de chutar o balde, de achar que não daremos conta requeira apenas uma pausa. Um momento para conseguir assimilar, assentar e deixar as coisas fluírem.

Dê uma pausa, meu querido leitor.

Se permita relaxar um pouco e esperar a vida também dar os seus próprios passos.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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