A solidão…



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A solidão me conduz ao vazio (“eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora” – “Vento no Litoral”, Legião Urbana –). A solidão toma-me o corpo e a alma em seu manto escuro e frio. Entorpecido, uma angustia devastadora me domina, e, muitas vezes, faz-me sentir pesado, indesejado, esquecido (“solidão palavra cavada no coração, resignado e mudo no compasso da desilusão” – “Dança da solidão”, Paulinho da Viola –). E tenho seguido cambaleante, fingindo que não me sinto sozinho.

Quando a solidão aperta seus nós espinhosos em mim, anseio por alguém que possa me acudir e amparar. Mas, ao mesmo tempo, desejo não estar com ninguém. A dor que nessas horas me aflige o espírito é ainda maior porque, de alguma maneira, a solidão intensa que me sufoca, também me aproxima, intimamente, daquilo que sou e isso me dá muito medo (“solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim” – “Desde que o samba é samba”, Caetano Veloso e Gilberto Gil).

A solidão que sinto, não é apenas aquela de estar sozinho, mas, principalmente, é aquela em que eu percebo estar isolado, afastado, ignorado. É o tipo de solidão que me traz melancolia, tédio, tristeza, insatisfação, amargura e tantos outros problemas não resolvidos, inconscientemente ou não. A solidão me fragiliza e me desumaniza. Pode me impedir de traçar metas, fazer planos, buscar objetivos. A solidão é afinal a desesperança (“Não há mal pior do que a descrença, mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão” – “Como dizia o poeta” – Vinícius de Moraes).

Quando penso para além de tudo que está à minha volta, pergunto-me: o que está acontecendo? Por que tenho vivido assim tão só? Já não estou (como todos me diziam para estar) largamente conectado? Então, o que me falta? Talvez me falte paciência, tempo e desejos simples. Coisas boas e naturais como o amor e a atenção. Vou assim, seguindo o meu caminho, enredado pelo cotidiano cheio de atribulações e coisas que suponho ser importantes para fazer. Serão mesmo importantes? Até quando serão “importantes”?

Penso em desacelerar, mas todos me dizem que assim eu ficaria para trás. E eu, silenciosamente, me pergunto: para trás do quê? Afinal, nada é para sempre! (“Solidão de manhã, poeira tomando assento, rajada de vento, som de assombração… Coração, sangrando toda palavra sã” – “Açaí”, Djavan). Cobro urgência em tudo que faço, mas, em verdade não uma única urgência na vida. Porque tudo acontece conforme precisa acontecer. Cumpro minhas tarefas do dia a dia, automaticamente, e, muitas vezes, nem sei o que são elas ou o que estou fazendo. Sinto-me vazio. O que tenho feito, pensado e sentido (agora eu percebo) são meras banalidades.

Por que preciso saber o que sinto? Por que fujo do que sou? Por que devo procurar por respostas para tudo? Não sei, não sei. O que suponho saber é que nada é definitivo! Porque não existe uma natureza humana completa, acabada, definida, onisciente. Torno-me, deste modo, aquilo que fui e aquilo fiz de mim mesmo. E como não sei o que gostaria de ser (ou talvez saiba, mas não gosto daquilo que vejo em mim) desabo na solidão. Preencher esse vazio existencial talvez seja dar algum sentido para a vida.

Finjo que não sinto solidão. Mas ainda acredito no amor. Isso abranda minha alma solitária. Ainda que o filósofo alemão, Arthur Schopenhauer (1788/1860) tenha alertado: “…cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.”. Eu sinto o que sou, mas não sei dizer ainda quem sou! Não há saída. Tudo o que podemos saber é que vamos morrer. O resto são conjecturas.

Solidão não é estar sozinho. Solidão é perceber-se sozinho com todos à sua volta. Enquanto isso, minha solidão permanecerá sendo a minha sombra companheira e assustadora de todos os dias e todas as noites da minha vida. Mas, sigo em frente. Ouvindo o cantor e compositor Alceu Valença, cantar: “a solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas, prima irmã do tempo, e faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração”. Isso me faz chorar, mas também me acalma.

Cláudio Zumaeta – Historiador graduado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Ilhéus – BA)  Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL, Salvador – BA). Especialista em História do Brasil (UESC, Ilhéus – BA). Mestrando em História Regional e Local (UNEB Campus V, Santo Antonio de Jesus. Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL).