Semana passada, nesta mesma batcoluna, nós conversamos sobre a necessária descida do Olimpo. Sobre abandonar a arrogância, a superioridade, o julgamento e o acreditar que sabe tudo mais que todo mundo. Um ponto importantíssimo neste processo, meu amado leitor, é que este não é um processo simples e indolor, que você ganha consciência hoje e amanhã, às 10:32 da manhã, está desembarcando na terra dos mortais. Não é bem assim.
Todo e qualquer movimento de percepção, mudança e transformação pessoal requer encarar as nossas dores. Enfrentá-las. Tirar as armaduras que carregamos por tantos anos e deixar de lado esse escudo que te impede de sentir. E isso não é da noite para o dia, é um processo que requer compaixão e vigilância.
Quando a gente fala de abrir espaço para sentir, pode ser que fique meio nebuloso, confuso e distante do real tudo isso, não é? Pois então, meu caro ser de luz, vamos buscar esclarecer esse negócio.
Enfrentar as nossas dores, medos, temores e faltas significa a gente não fugir mais de sentir tudo isso. Vamos contar uma historinha, porque eu amo uma história. Repare, digamos que você, ao longo de sua vida, teve uma relação meio conflituosa com sua mãe; não se recorda de momentos de afeto ou, de alguma forma, isso se perdeu em algum momento e vocês não conseguiram retomar esta relação e isso incomoda você profundamente, porque você deseja estar perto dela e ter momentos de cumplicidade, carinho e afeto. Está acompanhando? Tome um gole de água aí. Pois bem, para lidar com essa dor, você começou a se fazer de forte o tempo todo, a fingir que dava conta de tudo e que não sentia falta daquele carinho materno. Mas aí, meu querido, lá no fundo, no fundinho do seu ser, existe aquela dor, aquele incômodo, aquela falta que nada supre e ela vai continuar ali até que você olhe para ela. Lamento informar.
Repare, olhar para nossa dor é deixar ela doer. Isso mesmo! Não mais fugir dela. No caso aqui da nossa historinha, é preciso assumir a falta que o amor da sua mãe te faz. Sentir essa dor, chorar em posição fetal se for preciso. Sentir essa falta. Abrir espaço para essa dor sair. Qualquer coisa que fique muito tempo presa, vai se movimentar e se mexer e se rebuliçar até que ache uma saída. Isso também acontece com as nossas dores.
Sentir a dor permite abrir caminho, via de saída. E o peso que é carregar essa armadura de sempre ser forte e sempre dar conta de tudo é exaustivo demais de carregar. E eu te digo, meu amado leitor, é possível se desarmar. É seguro sentir.
E é a partir do olhar para as nossas vulnerabilidades que a gente constrói relacionamentos saudáveis. Com a gente mesmo, com a vida e com os outros, porque só é possível se relacionar com o imperfeito, com o que precisa de ajuda e que não tem todas as respostas de mundo.
Olhar para as nossas dores é mais leve do que carregar todo esse peso de dar conta de tudo e ser forte o tempo todo.
Acredite! Se desarme.
– Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;
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