ANIVERSÁRIO E ALGUMAS HISTÓRIAS (VI)


"O nosso Cachoeira não é dos maiores, mas é o que temos"


“Meu Deus, meu Pai Soberano

Faça com que se reúna

Se for possível os ateus

Imploro que a vós se una

Louvando alegre e contente

Viva sem ter outra enchente

A nossa bela Itabuna”.

 

São versos do poeta e cordelista Minelvino Francisco Silva sobre a grande enchente do Cachoeira em 1967 e, com eles, iniciamos mais uma apreciação sobre a nossa Itabuna, que nesse mês de julho, no dia 28, estará comemorando mais um aniversário de sua emancipação política.

Falaremos sobre o nosso principal rio e suas ilhas, suas enchentes e as pontes que ligam as duas margens. Os rios fazem parte da beleza de muitas cidades espalhadas pelo mundo, pois, além de serem fonte de água e de alimentos, servem como vias navegáveis e áreas de esporte e lazer. Quem nunca ouviu falar do Danúbio, do Tejo, do Tâmisa, do Jordão, do Reno, do Sena e de tantos outros que banham importantes núcleos urbanos?

O nosso Cachoeira não é dos maiores, mas é o que temos e a sua presença está diretamente ligada à história de nossa cidade e, junto às suas duas margens, surgiram as primeiras edificações do conglomerado urbano que nascia e se tornaria, décadas depois, a nossa pujante Itabuna. Na sua margem direita, no local denominado Marimbeta, foi onde Félix Severino ergueu a primeira casa e, em frente, na margem esquerda, surgiram as primeiras edificações que formaram a primeira rua, conhecida como Rua da Areia. Três grandes ilhas apareciam, no sentido Itabuna/Ilhéus, conhecidas como Ilha da Marimbeta, Ilha do Sequeiro e Ilha do Mutucugê. A Ilha da Marimbeta existiu até há alguns anos e, como as outras duas, foram desaparecendo pouco a pouco, graças à erosão e ação das enchentes periódicas e, a partir da enchente de 1920, passou a ser conhecida como Ilha do Jegue.

Muitas foram as enchentes envolvendo o nosso rio; a primeira, devidamente registrada pelos nossos historiadores, nos remete ao ano de 1914, quando choveu durante 11 dias e 11 noites, destruindo boa parte da jovem cidade, com o ápice no dia 23 de janeiro; a enchente de 1920 deixou, para a história, o drama de um jegue cujo proprietário o deixou na ilha que foi, pouco a pouco, engolida pelas águas, mostrando o jumento com as patas e parte do corpo também dentro da água; às suas margens, o povão assistia ao “espetáculo”, fazia-se apostas, mas o jumento acabou sendo resgatado tão logo as águas começaram a baixar.

Também tivemos uma grande enchente em 1947 e outras em 1964 e 1965, mas a maior de todas foi a de dezembro de 1967, quando o Cachoeira invadiu boa parte da cidade e chegamos a ver, coisa impensável, canoas e lanchas na Cinquentenário. Muita gente desabrigada, prejuízos imensos e, como o brasileiro, mesmo na tragédia, não perde a oportunidade para uma piada, dizia-se que o povo de Ilhéus corria para as margens do rio, já próximo àquela cidade apenas para “ver Itabuna passar”.

A primeira grande ponte construída sobre o Cachoeira foi a ponte Goes Calmon, inaugurada a 01 de março de 1928 pelo governador Francisco Marques de Goes Calmon, para facilitar a ligação rodoviária com a vila de Macuco, hoje Buerarema, passando pela Abissínia, hoje o grande bairro da Conceição; em 1947, foi a vez da inauguração da ponte Antônio Lacerda, que presentemente faz a ligação com o São Caetano e outros bairros.

No início da década de sessenta, a cidade recebeu a ponte do Marabá, graças aos esforços de Mario Padre junto à diretoria do Banco Econômico; em 1970, com a inauguração da BR-101, surgiu uma nova ponte, próximo ao aeroporto e, em 1980, a última ponte a ser construída, ligando o bairro de Fátima à Vila Zara, que homenageou Calixto Midlej Filho, dando-lhe o nome.

Não podemos deixar de falar sobre a ponte do Tororó, mais conhecida como ponte dos Velhacos, feita com segmentos de cimento e outros de madeira, servindo apenas para pedestres, mas que funcionou, a contento, por mais de vinte anos; quando as águas do Cachoeira baixam muito, ela ainda aparece, submersa que se encontra desde a construção da barragem.

E assim, prezados leitores, vamos falando, pouco a pouco, sobre a história de nossa Itabuna; muitos desses fatos relatados foram vivenciados por mim e por muitos outros da minha geração, essa geração que pouco a pouco vai se despedindo para dar lugar a outras que estão surgindo, dentro dessa dinâmica da vida, que determina suas leis e seus códigos, sem se importar com o que achamos e o que queremos.

Toda essa conversa que estamos mantendo nas páginas deste jornal tem, no entanto, a principal tarefa de mostrar às nossas gerações as belezas e as dificuldades que os pioneiros tiveram para edificar esse edifício bonito que é a nossa cidade, a nossa Itabuna.