Um fato interessante que tenho observado, já há alguns anos, é como as pessoas se posicionam diante da política; é comum muitos dizerem que não querem saber, não se interessam por política, mas acabam entrando numa discussão, emitindo opiniões, alguns se enervam e há as que acabam em brigas. A política exerce o mesmo fascínio e as mesmas paixões que as religiões e os clubes de futebol e, em alguns casos, transformam-se em verdadeiros fanatismos.
No momento atual estamos, mais uma vez, observando uma efervescência em Brasília, como já houve outras, motivando discussões e tomadas de posição, ou de apoio ou de contestação, às atitudes do presidente da República; na crônica passada, quando abordamos algumas similitudes e diferenças entre o Bolsonaro e o Jânio Quadros, fizemos algumas considerações sobre o modo de agir do paulista que ora ocupa o palácio do Planalto e que, oriundo das fileiras militares, fez uma longa militância no Congresso Nacional; por haver frequentado as reuniões e as tomadas do Poder Legislativo por mais de vinte anos, esperávamos que tivesse mais tato para agir com os seus ex-companheiros e não cometesse os mesmos erros que alguns de seus antecessores não souberam evitar. Também o seu relacionamento com outro poder da República, o Judiciário, é cada vez pior, tudo contribuindo para aumentar a instabilidade política, dando lugar a uma boataria que faz a festa dos que apostam no “tanto pior, melhor”.
Queixa-se o presidente que o Supremo Tribunal Federal não o deixa governar e ficamos meio perdidos, sem saber até onde isso é verdade; por outro lado, o estilo despachado e sem “papas na língua” do presidente parece favorecer a beligerância armada entre os três poderes, quebrando aquela harmonia que foi pensada e preconizada pelo francês Montesquieu, no seu célebre trabalho “O Espírito das Leis”, de 1748, que deu origem aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com cada qual independente mas, infelizmente, não é isso o que se observa na prática. Culpa das leis ou dos homens?
Por outro lado, o sistema presidencialista favorece o aparecimento dessas divergências, o que não ocorreria se já estivéssemos no parlamentarismo, já amplamente testado nas mais sólidas e admiradas democracias. Pelo que se observa, ao longo do tempo, o único sistema presidencialista que deu certo foi nos Estados Unidos da América do Norte.
Os dois lados que estão brigando em Brasília, cada um joga sobre o outro, a pecha de querer acabar com a democracia, de implantar a ditadura e, no meio desse tiroteio, ficamos nós sem uma verdadeira fonte da verdade, vez que os meios de comunicação também não merecem mais a confiança que detinham no passado.
O grande líder inglês do século XX, Winston Churchill, costumava ensinar que “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela” e o nosso grande patrício Otavio Mangabeira salientava que a “democracia é uma planta muito tenra, que precisa de muitos cuidados”. Seria interessante que nossos políticos seguissem alguns ensinamentos desses líderes que, efetivamente, cumpriam o que diziam e não “enrolavam” os seus eleitores.
Por outro lado, também é bom lembrar da necessidade de se manter a paz, seguindo os ensinamentos de Cristo e atentando para a advertência do Papa Francisco quando nos diz que “a paz é difícil, mas viver sem ela é um tormento”.