Olha, meu amado leitor, se tem uma coisa que eu tenho percebido cada vez mais na prática clínica e nos atendimentos como psicoterapeuta, é como estamos vivendo uma vida repleta de facilidades e prazeres, mas nunca estivemos tão insatisfeitos, infelizes e ansiosos.
Não sei se você já parou para observar e refletir que a maioria das facilidades que temos hoje em dia nos escravizam. Mesmo sendo muito bem-vindas, necessárias e facilitadoras na nossa vida moderna, elas possuem armadilhas sutis que nos levam diretamente aos braços da ansiedade porque fazem com que a gente busque uma vida pautada em prazeres e tranquilidade.
A grande questão, meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado, é que vida nenhuma se sustenta dessa forma, nessa busca incessante pelo prazer e pelo mais fácil. O prazer, além de ser algo muito abstrato – uma hora a gente se satisfaz com tal coisa, ora com outra e depois com nenhuma das duas – é momentâneo, não tem constância. E viver em torno disso é receita certa para a frustração.
Além de tudo isso, ainda existe o fato de que viver buscando sempre o caminho mais fácil, menos trabalhoso, mais confortável, com garantias e selo de qualidade esconde uma armadilha silenciosa: o medo de perder o conforto.
Pense cá comigo, pegue aí sua xícara de chá e acompanhe o raciocínio: hoje eu, você e qualquer pessoa temos mais confortos e comodidades do que nossas antepassados das cavernas, convenhamos. Está registrado no nosso inconsciente coletivo essa evolução, por isso é tão comum o medo de perder o emprego, de se endividar, não ter como se sustentar ou sustentar uma família. Em alguns casos esse medo é realmente justificado, mas a maioria é caracterizado por um temor vago, que não se sabe de onde vem, mas é completamente paralisante.
Neste momento, eu estou escrevendo essa coluna num bloco de notas do meu celular. Você, provavelmente esteja lendo a versão online dela também no seu celular; ou, caso esteja lendo a versão impressa no jornal, o seu celular deve estar aí do seu lado. O celular faz parte da nossa vida e a gente carrega a vida no celular, mas não nos damos conta da quantidade de coisa que aparece nessa telinha – tão cômoda e que facilita nossa rotina – que dispara verdadeiros gatilhos de ansiedade.
A comparação com a vida alheia, a enxurrada de fotos e vídeos de tragédias, polêmica para tudo que é lado, fofoca e maledicência na mesma medida. E tudo isso aparece misturado com vídeos engraçados de cachorro, gato e criança; o que nos passa a sensação de ganho depois da perda. E seguimos rolando a tela infinitamente neste mesmo movimento… nos anestesiando e vendo as horas passando como se fossem minutos.
Até que ponto usamos essa ferramenta com sabedoria? Ou será que estamos viciados nela? Quanto tempo você aguenta ficar longe do celular? Como estão as conversas reais, presenciais, de corpo e mente presentes com as pessoas que você ama e quer manter por perto?
Temos avanços ou armadilhas?
* Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito