Por Igor Lucas*
A famosa frase escrita por Arthur Schopenhauer no século XIX “a vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir” sempre esteve em pauta nas reflexões do cotidiano da sociedade. No entanto, nos últimos anos ela esteve ainda mais em foco, principalmente entre os jovens. Afinal, como estamos realmente nos sentindo? E como queremos nos sentir?
Na “era da tecnologia” que estamos vivendo, a cada dia que passa mais e mais novidades surgem para os indivíduos, seja um eletrônico, um local, um item doméstico, uma plataforma de streaming, entre outros. São tantas opções, que dispersamos o nosso foco e muitas vezes acabamos querendo tudo, e ao mesmo tempo acabamos não escolhendo nada. Não custa nada relembrar o velho dilema da “escolha do que assistir na Netflix”, no qual passamos horas olhando todas as opções de séries e filmes, e no final não escolhemos nenhum e vamos dormir (quase todo mundo já passou por essa). Esse tipo de comportamento se repete diariamente em diversos âmbitos do entretenimento e lazer da nossas vidas atualmente, e muitas vezes nos deparamos com aquele sentimento de tédio de dizer “não tem nada para fazer”, quando na verdade diversas opções estão na nossa frente, ou simplesmente enjoamos delas rapidamente por querermos viver tão rapidamente quanto a velocidade dos vídeos do Instagram e TikTok.
Ao fazer uma autocrítica recentemente após uma brincadeira de um amigo (abraços Miguel!), percebi que eu não deveria estar na ânsia de ter, pois muito do que desejei por anos estava em minhas mãos, mas eu não estava sabendo usufruir disso. Seja uma amizade, um local, ou um eletrônico (no meu caso um videogame), eu já tinha comigo, mas não estava aproveitando, pois minha mente estava muito focada no que eu ainda não tenho. Quando comecei a ser grato e busquei ser feliz com o que já tenho, percebi que não era a ânsia de ter que me incomodava, e sim a falta de tempo para usufruir do que já tenho. Enquanto passamos tempo procurando o que ainda não temos, a vida e o que já temos está passando pelos nossos olhos. As vezes sentava com os meus amigos num bar e a grande pergunta que todos faziam na mesa depois de horas era: “o que estamos fazendo? ”. Recentemente, comecei a mudar o modus operandi, e meus momentos de lazer e finais de semana tem sido bem mais produtivos para mim mesmo, pois vejo que eu já tinha coisas comigo que antes eu desejava, só não estava as aproveitando como deveria. Quando mudei esse comportamento em mim, comecei a notar outros amigos que fizeram o mesmo consigo e fico feliz ao ver que estão conseguindo aproveitar o que tem, seja indo ao cinema, a uma praia, ou até mesmo acordando às 5 horas da manhã de um domingo para correr (tem que ter coragem!!!).
A conclusão não é de que apenas estamos vivendo “o tédio de possuir”, muito pelo contrário, devemos sempre almejar ter mais do que nos faz feliz (de maneira saudável). O que está faltando, é valorizarmos aquilo quando se tornar nosso, fazer valer a pena o esforço feito para nossas conquistas pessoais. É necessário que possamos nos desprender do que nos tira o foco e ainda não está em nossas mãos, e abraçar o que temos conosco, seja uma pessoa, objeto, hobby, etc. E caso sinta dificuldade em perceber o que é que você já tem em suas mãos, a dica que te dou é o que fiz comigo mesmo: respirei fundo e pensei: “o que me faz feliz? ” Garanto que quando você achar a sua resposta, descobrirá que ela já está com você.
*Igor Lucas tem 26 anos, é Comunicólogo, formado na Universidade Estadual de Santa Cruz, amante de futebol, tecnologia e cultura geek