Estávamos na segunda metade da década de sessenta e a nossa cidade experimentava um grande desenvolvimento graças aos “frutos de ouro”; o cacau mostrava todo o seu apogeu e a criação da CEPLAC trouxera um novo alento à cultura do cacau; em 1956, passeata pela Cinquentenário reivindicando o preço mínimo para a arroba do cacau no mercado internacional.
Os jovens itabunenses que pensavam uma Itabuna com maior desenvolvimento reuniram-se na Frente Itabunense de Ação Renovadora (FIAR) e já se empenhavam nas lutas pelo nosso aeroporto, pela instalação de um moderno serviço telefônico e pela instalação de um curso científico. Tudo isso, visto sob a ótica do presente, parece coisa pequena, mas vivíamos nos anos 50-60, com várias carências
No setor de saúde, pontificavam as ações empreendedoras do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto e seus pares que, em 1917, lançaram as bases para a construção de um hospital – antigo desejo dos seus moradores – e, também, de um novo Cemitério; e o hospital foi inaugurado a 7 de setembro de 1922, com o nome de Hospital Santa Cruz, da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna e, na jovem cidade havia clínicas como a de Dr. Oscar Racene Jesuíno, a de Dr. Alberto Teixeira Barreto, que, por sua vez, havia adquirido a Casa de Saúde do Dr. Alício Peltier de Queiroz, ali na rua São Vicente de Paulo, em frente ao Serviço de Luz e Força que fornecia a energia elétrica à cidade.
Em 1953, o Governo Federal inaugurou o Hospital Manoel Novaes mas, alguns meses depois, passou o mesmo aos encargos da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, que passou a administrar os dois hospitais e, já se começava a pensar em um pavilhão ou uma enfermaria, somente de pediatria, o que foi efetivado ano depois, contando , principalmente, com o apoio das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Sena.
Um dos primeiros pediatras em Itabuna foi Dr. Antonio Miranda, conhecido como Dr. Mirandinha. Nos anos 50 e 60, o número de médico na cidade havia crescido, mas em Pediatria apenas quatro exerciam a especialidade, em seus consultórios, a saber: Dr. Alberto dos Reis Lessa, Dr. João da Silva Monteiro, Dr. Antônio Fabio Dantas e Dr. Jacintho Cabral de Souza. Esses pediatras também atendiam no Novaes, mas sem um serviço devidamente estruturado, o que só viria a ocorrer na década de setenta.
Os quatro citados pediatras resolveram montar um hospital para atender a criançada, fazendo um trabalho em conjunto e, a 8 de julho de 1968, era inaugurado o Instituto de Pediatria e Puericultura de Itabuna (IPEPI), inicialmente funcionando no segundo piso de um edifício à margem direita da Cinquentenário; posteriormente, em face do crescimento da instituição, passaram para um prédio de melhores acomodações, à Praça da Bandeira e, finalmente, para o atual prédio na Avenida das Nações Unidas, onde se encontra até hoje.
Teve o nome mudado para Centro Médico Pediátrico de Itabuna (CEMEPI). Na medida que foi crescendo, houve a necessidade de acomodar novos profissionais e, logo do início dos anos 70, as doutoras Zina Macedo e Lícia Mastique, passaram a emprestar a sua contribuição ao jovem hospital infantil e, além das citadas pediatras, vieram trabalhar no hospital os doutores Ieda Nunes Marinho, Renato Albano de Oliveira, Ely Lima Andrade, Adão Ferreira Borges e João dos Reis Lessa Neto.
O CEMEPI é um hospital cuja maior clientela são os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e todos sabem como é baixa a remuneração do SUS, além de não reajustar os valores segundo a inflação e isso tem levado a rede hospitalar e os demais serviços de saúde a uma verdadeira crise econômico-financeira.
Há dois anos, o CEMEPI fechou, temporariamente, as suas portas, a fim de diminuir o prejuízo e a população sentiu o drama; reabriu graças às ingerências do prefeito Augusto Castro que, desde os tempos em que era Deputado Estadual, vem se preocupando com a saúde em nossa cidade; ainda faltava muito para o hospital atuar a pleno vapor, como se diz. Seria muito bom que, neste mês em que Itabuna completa mais um aniversário, pudéssemos, também, colocar o CEMEPI em seu devido lugar, cuidando e salvando as crianças de Itabuna.
Seria indesculpável se encerrássemos estas notas e não fizéssemos nenhuma alusão ao corpo de funcionários do CEMEPI, que se manteve solidário durante esse período de crise e deve receber o devido reconhecimento da direção do hospital e de toda a comunidade itabunense.
João Otavio Macedo.