O cenário encontrava-se pronto para termos uma grande festividade natalina, depois de dois anos às voltas com a pandemia que virou o mundo de cabeça para baixo, aprisionando as pessoas em casa, para evitar aglomerações que poderiam disseminar o vírus que tanto mal vem causando à humanidade; não me lembro de ter visto uma decoração natalina tão bonita como a que vimos em algumas praças, avenidas e na beira-rio. Uma aura de otimismo e alegria envolvia parte importante da população e a criançada preparava-se para os folguedos armados para as brincadeiras e, como não poderia deixar de ser, também para esperar a passagem do Papai Noel.
Cenário perfeito para uma grande festa, apenas faltou combinar com São Pedro; as nuvens ameaçadoras, já previstas por alguns serviços de meteorologia e, também, por estudiosos e entendidos no assunto, começaram a emitir os primeiros sinais no final da última semana, caindo sem nó nem piedade justamente no dia 25, causando grandes transtornos não somente na nossa Itabuna como em diversos municípios não pertencentes à região cacaueira. O cenário de destruição é bem conhecido e bem temido, pois envolve a interrupção de trechos rodoviários importantes, populações ilhadas, casas se desfazendo como se fossem de brinquedo, famílias perdendo o pouco que tinham, os ribeirões e rios, com suas águas engrossadas invadindo e levando tudo.
Os cientistas culpam “La Niña”, esse fenômeno climático que ocorre periodicamente, mexendo com a temperatura da água do Oceano Pacífico próximo à costa oeste americana, trazendo chuva para o nordeste e seca para o sul do Brasil.
Os estragos causados em nossa cidade por essas pesadas chuvas, como não poderia deixar de ser, conduzem a comentários os mais variados, apontando essa ou aquela enchente como a pior mas, na verdade, segundo os registros históricos, a mais devastadora foi a que ocorreu em 1914, quando choveu 11 dias e 11 noites, destruindo a primeira rua erigida quando das primeiras edificações do futuro núcleo urbano, a antiga rua da Areia, ali pelas imediações da Praça Olinto Leone e da rua Miguel Calmon. A enchente, que teve seu clímax na noite de 23 de janeiro de 1914, também redesenhou parte do rio Cachoeira, destruindo algumas ilhas; houve enchentes em 1947, 1964, 1965, mas nenhuma da magnitude da que ocorreu em 1967, que começou na tarde de 26 de dezembro daquele ano, durando alguns dias; os prejuízos foram imensos.
Nenhuma enchente, por menor que seja, é inofensiva, e os que tiveram prejuízos podem muito bem avaliar o impacto dessas chuvas torrenciais, apesar da aparente beleza de um rio cheio, que ficaria muito mais bonito caso não resolvesse deixar a sua calha e invadir ruas, praças e casas.
As bonitas festividades do Natal, que estavam começando, foram interrompidas e o poder público encontra-se com o desafio de consertar o que foi destruído, amparar os desabrigados, procurando retornar à normalidade. Foi um verdadeiro “Dires irae” e, não temos muito o que fazer, diante das forças incontroláveis da natureza.