Artigo de João Otávio Macedo – TRINTA E CINCO ANOS SEM CALIXTINHO


“Um traço marcante na atuação de Calixtinho é que ele não pedia somente para a sua Santa Casa”


Como fiz no primeiro e a cada cinco anos após o seu falecimento, hoje estou lembrando que estamos há trinta e cinco anos sem Calixto Midlej Filho, o sempre lembrado Calixtinho.

Foi a 5 de julho de 1984, após insidiosa e dolorida enfermidade, que Calixtinho partiu, deixando uma lacuna imensa na comunidade regional, tão carente de pessoas trabalhadoras, capazes e, acima de tudo, de comportamento ilibado, servindo de fanal para a juventude que, a cada passagem de ano, vê diminuir o número de cidadãos e cidadãs que realmente podem merecer o título de benfeitores de uma sociedade.

Atuando no comércio itabunense, participava de todas as campanhas que diziam respeito ao progresso de Itabuna, atuando na diretoria de clubes sociais, clubes de serviço, grêmios esportivos e atuação fluente na FIAR (Frente Itabunense de Ação Renovadora), organização composta de jovens da cidade, nas diversas profissões e que pensavam os problemas locais engajando-se, com muito entusiasmo, nas lutas pela implantação da telefonia, da melhoria do campo de aviação e de tudo que tivesse a ver com o progresso de Itabuna.

Em 1972, foi eleito Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, cargo que só há muito conseguiu aceitar, embora já participasse do Conselho Diretor; dentro da sua modéstia, achava que havia outros nomes que poderiam seguir a trilha do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto. Enfim, aceitando ser Provedor, Itabuna e a região veriam o desabrochar de uma capacidade para o fazer e, o que foi realizado nos anos seguintes, sob a batuta do novo e corajoso Provedor, só trouxe ganhos para a cidade. A medicina regional muito deve a Calixtinho, não apenas pela modernização dos dois hospitais, o então Santa Cruz e o Manoel Novaes, mas, principalmente, pelo incentivo aos novos médicos para que fizessem pós-graduação, com a Santa Casa ajudando financeiramente e, também,a criação do Centro de Estudos Prof. Edgard Santos, dando um importante alento ao progresso da medicina e da ciência. A Santa Casa, através dos seus dois hospitais, marcou o pioneirismo em áreas como a Endoscopia, o Centro de Terapia Intensiva, o tratamento dialítico (Hemodiálise e Diálise Peritoneal), além da modernização dos hospitais, do Banco de Sangue e do Laboratório. O atendimento médico-hospitalar oferecido em Itabuna era tido como o melhor do interior do Estado graças, principalmente, ao trabalho de Calixtinho, que foi o homem certo, em um momento certo, pois passou a contar com o apoio de órgãos como a CEPLAC, o Instituto de Cacau da Bahia e do governo do estado. Costumava oferecer jantares, nos hospitais, às pessoas do mundo empresarial e político, mas a “facada” vinha depois, ao conseguir recursos que foram fundamentais na modernização dos hospitais e do cemitério.

Um traço marcante na atuação de Calixtinho é que ele não pedia somente para a sua Santa Casa, aproveitando as oportunidades para também solicitar ajuda às diversas entidades de Itabuna, fato a que assisti inúmeras vezes. Mesmo sem ter muita afeição pela política partidária, acabou fisgado pela política, nela ingressando com intuito de angariar mais recursos para a cidade, mormente para a Santa Casa.

Homem de inúmeros amigos e de muitos afilhados, a mala de seu carro vivia sempre com presentes, pois era raro o dia em que não havia alguém a ser presenteado. Como deixou o mundo dos vivos há 35 anos, a atual geração não conviveu com alguém que gostava e sabia cultivar amizades, além de participar da vida da cidade. Gostava do Carnaval e, mais ainda, do São João, quando percorria as ruas enfeitadas, principalmente nos bairros, antes de oferecer os fogos aos afilhados e mandar acender a fogueira na rua onde morava.

Os que tiveram o privilégio do convívio com esse descendente de libaneses até hoje lamentam a sua morte e o muito que ainda poderia ter feito por Itabuna; jamais admitiu morar em outra cidade.

Acredito ter reavivado a memória de todos que conviveram com Calixtinho e mostrado um pouco dessa figura carismática que foi o meu amigo, compadre, companheiro rotariano e irmão da Santa Casa, Calixto Midlej Filho, o sempre lembrado Calixtinho.