Por Kiko de Assis
Pra entender o Brasil de 2021 é preciso mergulhar, sem paixão e com parcimônia, em sua história. Nesta breve reflexão iremos ter como ponto de partida os anos 50/60 e notadamente o personagem mais emblemático da época, Juscelino Kubitscheck! Sim, o mineirinho e seu delírio megalômano. Pra construir Brasília, uma cidade cravada no meio do nada para abrigar a nova Capital, o presidente Juscelino gastou uma montanha de dinheiro, tomado, grande parte, em empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional) que gerou uma dívida Impagável! Assim o Brasil se tornou refém do Fundo por décadas. Isso tudo por conta do visionário (?) Juscelino. O Brasil precisava de Brasília? Precisava destruir sua economia, ainda engatinhando, para assombrar o mundo com a arte e o talento de Niemayer? Quero deixar claro que, como bacharelando em arquitetura, sinto muito orgulho do maior gênio da arquitetura nacional. Mas não suporto usar a palavra SE, pois, não existe marcha ré na ampulheta do tempo… Agora, SE este investimento MONUMENTAL fosse feito em áreas onde até hoje sentimos precariedades, como na saúde, educação e segurança. Poderíamos hoje estar vivendo num país mais civilizado e próximo das nações do primeiro mundo. Mas o tempo e sua inexorabilidade não permitem essa primazia.
A movimentação política dos anos 60 caminhava para que governos mais nacionalistas discutissem esse Brasil endividado e manipulado pelo desejo do FMI, em conduzir o país de acordo com suas conveniências econômicas e políticas. O cabresto estava posto e as ordens vinham das terras do Tio Sam! A primeira interferência veio do próprio John Fitzgerald Kennedy. Quando a consciência tupiniquim virou bandeira de luta, imediatamente a orientação dos EUA era para que os militares expurgassem “esses comunistas” da vida pública do Brasil. Sim! Defender a soberania nacional era um ato subversivo! E o Brasil continuou refém do fundo durante décadas e tutelado pelos agentes ligados à CIA (Agencia Central de Inteligência) americana que dava as cartas aqui e em toda a America Latina. E a razão desse interesse todo dos Norte Americanos pelas terras Brasilis era “abafar” qualquer movimento libertário do poderio do FMI, pois, aqui já se percebe essa força externa e o tamanho da nossa submissão. Na década de 80, com a abertura política oriunda da pressão popular pelas Diretas Já, o país passa a negociar sua “dívida e alforria” de forma mais “diplomática”, por assim dizer. Os governos, agora democráticos, de Sarney, Collor e FHC, fizeram a lição de casa, embora o país começasse a despertar e perceber seu tamanho suas riquezas e sua importância na Geopolítica à época.
Na década seguinte (anos 2000) com a chegada de partidos tidos como “esquerdas progressistas” (quero deixar claro que não faço julgamento de valor ou defesa de partidos, tão pouco dos seus integrantes. A citação é sempre dos mandatários nos respectivos mandatos), a conversa muda de tom. O presidente eleito Lula, oriundo do sindicalismo e acostumado a embates com as multinacionais instaladas no país, cravou os dentes na faca e partiu pra cima do FMI. Esse capítulo da história do Brasil é muito pouco discutido e até mesmo desencorajado, pois, é o momento em que as elites brasileiras percebem que o Brasil estava virando a esquina… Essa guinada política tinha como foco a dívida estratosférica do país com o Fundo e que essa “libertação” poderia criar uma nova sociedade, mais consciente de sua importância e de suas riquezas. Pois bem, o governo paga a dívida com o FMI e se liberta das imposições econômicas e sociais impostas por décadas pelo Fundo e seus tentáculos que obstruíram a soberania nacional. Após essa virada de mesa, o governo da época faz renascer o MERCOSUL, criado na década de 90, mas praticamente travado e engavetado pelos governos anteriores…
O presidente Lula se coloca à frente das negociações do bloco e torna-se seu principal interlocutor. A Casa Branca, comandada por George W. Bush começa a enxergar no horizonte uma America Latina forte, poderosa e principalmente, liberta dos grilhões norte americano. A visão de Lula era tão simples que beirava a ingenuidade. Mas não era! Ele começou a entender que o MERCOSUL poderia ser tão forte quanto o G20. Que as economias de todos os países que compunham o MERCOSUL juntas e uníssonas, gerariam um GRANDE problema para a supremacia Norte Americana. O Brasil já ocupava a sexta posição na economia global e para desespero absoluto do Tio Sam, criaram os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A união dessas economias tornava o BRICS o bloco o mais poderoso do mundo. Mas a régua ainda estava por vir… O Brasil de Dilma, em seu primeiro mandato, descobre as duas maiores riquezas que uma nação pode ter. O projeto SIGA – Sistema Integrado da Grande Amazônia, descobre o maior aqüífero do planeta bem no centro da Amazônia! Só pra se ter uma idéia, esse aqüífero é capaz de abastecer de água potável o PLANETA TERRA por 250 anos! Seguida da exploração do pré-sal. E o Brasil naquele momento já era auto-suficiente em petróleo. Água, cada vez mais escassa e cara no mundo e petróleo em abundância. Pronto! Naquele momento foi disparado o gatilho da “America” e entra em cena o projeto fora Dilma. Ou seja, a “coisa toda” é articulada de forma absoluta e colonialista de fora pra dentro. Alguns atores, hoje na alça de mira da justiça, participaram ativamente para que o entreguismo ocorresse. Com a entrada de Donald Trump na Casa Branca tudo se consumou… De volta ao começo.
Kiko de Assis – Publicitário