Mariana Benedito
Durante as últimas semanas muito tem se falado sobre os casos de mulheres que morreram durante procedimentos estéticos feitos de maneira totalmente fora dos parâmetros médicos. Cirurgias realizadas em apartamentos, em salões de beleza, na casa da própria paciente sem nenhum tipo de preparação ou cuidado que demanda um procedimento tão delicado. É uma cirurgia! É algo que está sendo injetado dentro do corpo, necessita de um ambiente, minimamente, esterilizado e próprio para este tipo de coisa. Mas, o fato que quero abordar aqui, querido leitor, não é nem a questão do local onde esses procedimentos são realizados, e sim, o que leva – ou, infelizmente, levou – essas mulheres a procurarem esse tipo de cirurgia.
Eu, particularmente, consigo identificar no meio disso tudo dois movimentos que acabam sendo reflexo e consequência de um só: a resistência ao envelhecimento e a insatisfação com a própria imagem.Que existe uma cobrança social gigantesca por um parâmetro de beleza,nós estamos carecas de saber. E essa cobrança traz uma resistência enorme ao fato de que todos nós envelhecemos, vamos ficar cheios de ruguinhas no rosto, a Lei da Gravidade vai imperar e fazer com que fiquemos com a pele e músculos mais flácidos. É uma ditadura massacrante para estar sempre jovem, sempre com o corpo bonito, sempre em forma, sempre magra que leva uma grande parte das mulheres, principalmente – mas não exclusivamente – a buscarem cada vez mais procedimentos que tragam essa sensação de jovialidade de volta.
Mas a minha pergunta é: porquê? Porque essa busca, muitas vezes exagerada, por procedimentos estéticos que, inclusive, acabam por deformar rostos tão belos? Porque essa necessidade por estar sempre jovem? Que mal há em envelhecer e se deixar envelhecer? Voltamos à exigência social por beleza e jovialidade e vivemos num mundo em que ser velho é, reiterada vezes, sinônimo de inutilidade, de perda de vitalidade. E, ainda, acrescentamos à mistura desse caldeirão de coisas, a necessidade que todos nós temos de ser aceitos, elogiados, apreciados. Mas perpassa, além de questões individuais de porque não se permitir envelhecer, um padrão social de cobrar perfeição, seja no meio estético ou em qualquer outro.
E aí esse movimento de cobrança por uma beleza padronizada afeta a imagem que nós temos de nós mesmos. Nunca está bom o suficiente, sempre tem algo que pode melhorar. Nós dificilmente estamos satisfeitos com o corpo, a aparência, a imagem que temos. Poderia ser mais magra, poderia ser mais alto, poderia ter um corpo de capa de revista. Justamente aí que mora o perigo: estamos sendo atropelados por padrões, que muitas vezes nem existem na realidade. Imagens manipuladas, tratadas, produzidas que são vendidas como reais! A ideia de que só é bonita a mulher que tem um bumbum grande, que é magra, que tem peitão. É essa a ideia que tem levado as mulheres que citei no início desta coluna, a procurarem procedimentos super invasivos, feitos de maneira tão descabida.
É a soma de uma sociedade doente – que dita como as pessoas devem ser para se sentirem felizes e realizadas – coma busca por encaixe e aceitação, que tem trazido tantas mulheres à morte por meio de procedimentos estéticos. E olha que nem estou citando os distúrbios alimentares, as mutilações, os suicídios, a obsessão por atividade física que todo esse ditame de padrões traz.
Mas a reflexão que tem me rondado nos últimos dias é o que nos leva a estar tão insatisfeitos com a imagem que temos? Porque essa busca incessante para alcançar parâmetros de beleza totalmente equivocados, já que vivemos em um dos países mais misturados desse mundo.
Que falta é essa que carregamos dentro de nós, que nos faz buscar na aparência a aceitação que tanto almejamos?
Que perfeição é essa que buscamos?
Espelho, espelho meu…
Mariana Benedito – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria. E-mail: [email protected]