Meu amado leitor, me diga com sinceridade: você é você, mesmo? Ou é quem os outros esperam que você seja?
Eu sei, pode parecer uma pergunta estranha, mas pegue aqui na minha mão e me acompanhe. Confie! Quantas vezes, ao longo da vida, você se sentiu coagido a ajustar seu tom de voz, suas opiniões, seu comportamento, sua essência, para caber em lugares, manter relações, conquistar aceitação? E mais: quantas vezes você nem se deu conta que estava fazendo isso?
Vivemos tempos em que a autenticidade virou uma palavra bonita para estampar camiseta e legenda de rede social, mas, na prática, virou um produto de prateleira. Existe uma nova exigência: “seja você mesmo!”, mas só se esse “você mesmo” tiver o selo de aprovação do coletivo, se render curtidas, se fizer sucesso no palco iluminado da vida virtual. Se for agradável. Se for palatável. Se estiver de acordo com o roteiro do que é esperado. E, nesse teatro de aparências, muitas vezes, a gente se perde de si.
Nosso tempo valoriza o parecer. Estamos rodeados de estímulos externos, expectativas surreais de perfeição. Um mundo que aplaude a aparência, o status, o brilho de um sucesso vazio. E a autenticidade? Virou um papel de personagem num roteiro bem ensaiado. Falamos de sermos reais, mas editamos nossa própria verdade para sermos aceitos. Alguém aí já precisou “filtrar” o que sente, o que pensa, o que é, para não ser rejeitado? Eu aposto minha xícara de chá desta manhã que sim.
O que quero te propor hoje, meu ser que lê estas linhas aí do outro lado, é um mergulho profundo. Um olhar honesto para dentro de você mesmo. Porque não existe autenticidade sem coragem. Coragem de se enxergar inteiro. Com as luzes, as sombras, as contradições, as dúvidas. Coragem de sustentar quem você realmente é, mesmo que isso desagrade, mesmo que isso afaste alguns, mesmo que isso incomode.
Autenticidade é compromisso com você. E, olha, às vezes ela é desconfortável, bagunçada, cheia de perguntas sem resposta. Mas ainda assim, é a sua verdade.
Eu sei. A gente foi educado a querer agradar. A corresponder. A ser aceito, amado, validado. A buscar aprovação como quem busca água no deserto. E, sem perceber, vestimos máscaras. Pequenas, discretas, mas máscaras. E de tanto usar, esquecemos como é o nosso rosto de verdade.
E aqui te pergunto de novo: você é você? Ou a versão que criaram para você caber?
Há quem passe a vida inteira sem se fazer essa pergunta. Mas você, agora, está diante dela. E diante de uma escolha: continuar interpretando ou se permitir ser. Se permitir assumir as próprias verdades, limites, desejos, até onde você sabe de si. E não tem problema se ainda não souber tudo. A autenticidade não é um lugar estático, é uma jornada. Um caminho honesto e corajoso de volta para casa. E a sua casa é você.
Autenticidade não precisa de plateia, meu amado leitor. Ela precisa de presença. De consistência. De verdade no olhar para si e na entrega ao outro. O resto é novela das nove pra manter audiência.
Então, fecho aqui te deixando essa reflexão para a semana: em que momentos você não tem sido você?
E mais: o que, de fato, está te impedindo de ser?
Que não te falte coragem.
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito