Onde estão suas cicatrizes?


Você sonha em ser mais inteligente? Então me responda: onde está a pilha de livros rabiscados, os cadernos cheios de anotações?


Há pouco mais de três meses eu comecei uma rotina mais voltada para melhorar minha saúde. Andava cansada, com muito sono, muitas vezes com pouca disposição, resistência física baixa e um tanto quanto insatisfeita com a aparência estética. Daí resolvi iniciar uma rotina com disciplina: atividade física regular – mesclando musculação e corrida – com acompanhamento profissional, dieta personalizada por um nutricionista e alguns ajustes de hidratação e higiene de sono. 

Pois bem, muitas mudanças começaram a acontecer e aparecer! Como consequência de uma rotina regada a disciplina e constância, o corpo vem mudando e é aí que chegamos no ponto desta coluna, meu amado leitor, depois de toda essa contextualização.

A gente vive um tempo onde o imediatismo dita o ritmo. Queremos resultados rápidos, soluções instantâneas e, quando esses resultados não vêm, culpamos a falta de oportunidades, a rotina mais caótica que a de todo mundo, a vizinha, o papagaio e o periquito. Mas você já parou para olhar suas próprias mãos? Onde estão as marcas do esforço? Onde estão os sinais da consistência? 

Antes de esbravejar contra o mundo que você não consegue conquistar as coisas que deseja, olhe para as suas cicatrizes. Você sonha em ser mais inteligente? Então me responda: onde está a pilha de livros rabiscados, os cadernos cheios de anotações? Queria uma faixa preta no jiu-jitsu e estampar o “bjj” na bio do Instagram? Me diga onde está sua faixa branca, acabada de guerra, mais surrada que a capa do Batman que já nem parece branca de tanto esfregar no tatame. Essas marcas são a prova de quem realmente está no caminho do crescimento.

Há um grande abismo entre o desejo e a conquista. E esse abismo é preenchido por uma palavrinha simples, mas incrivelmente poderosa: consistência. Quem começa uma dieta toda segunda-feira não tem consistência. Quem faz exercícios um dia na semana e acha que isso basta, não tem consistência. Quem deseja avançar na vida, servir com excelência mas se recusa a colocar as ações em prática, a pagar o preço, não tem consistência.

A verdade é que a consistência deixa marcas. E essas marcas não são apenas físicas, são principalmente mentais e emocionais. Uma pessoa que chega longe  carrega consigo os sinais do esforço, das renúncias e da escala de prioridades que estabeleceu para seu caminho. A maturidade de alguém com resultados não é vista no status que exibe, mas nas cicatrizes invisíveis, aquelas que contam uma história de persistência e dedicação.

Olhar para essas marcas não é tarefa fácil. Viver em uma cultura que valoriza o agora, o resultado instantâneo, nos faz querer fugir do caminho árduo, nos faz evitar olhar para as dificuldades que precisamos enfrentar. Mas quem foge do processo, foge também das conquistas. Não tem outra equação, esqueça!

E a gente trabalha na sinceridade aqui, né? Convenhamos que não há atalho. A construção de uma mente forte, de uma personalidade bem consolidada, de um corpo saudável, de uma carreira de sucesso ou de uma vida que vale a pena ser vivida exige suor, trabalho árduo e uma boa dose de resiliência. A consistência é, na verdade, a base sólida sobre a qual qualquer grande conquista se ergue.

E você pode estar aí agora do outro lado, lendo estas linhas e pensando: “mas eu já tentei tantas vezes e não consegui”. A minha pergunta para você é simples e direta: tentou mesmo? Deu tudo que você podia por mais de 90 dias? Fez realmente o que precisava ser feito, sem desculpas? A pessoa que se torna um mestre em qualquer área de sua vida já foi, por muito tempo, um iniciante que seguiu em frente com dedicação e consistência. É a prática constante que cria as bases para o sucesso.

Consistência não é perfeição. Não se trata de nunca errar, de nunca falhar. Mas sim de se levantar todos os dias com os olhos mirando o objetivo, de ajustar o caminho sempre que for necessário, de seguir andando, sempre em frente. A maturidade vem com o entendimento de que as falhas fazem parte do processo, sem elas não há crescimento real. O negócio é não titubear na primeira dificuldade!

Então, antes de sair culpando Deus e o mundo pelos seus infortúnios e por que você ainda não alcançou o que deseja, olhe para o que já fez até agora. E questione com honestidade: onde estão as marcas da sua consistência? Quais são as suas cicatrizes?

Se elas não existem, talvez seja hora de começar a construí-las.

 

Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta

Instagram: @maribenedito