Não estou me cabendo de emoção, felicidade, gratidão e euforia por estar sentada neste exato momento, escrevendo o artigo que marca o retorno dessa coluna que eu tenho tanto carinho e que faz parte da minha trajetória profissional. Volto com muito mais percepção e clareza dos valores que me movem e do que eu pretendo deixar como legado nessa vida, aliados a mais experiência, maturidade, formações e qualificações profissionais. Volto me colocando ainda mais com desejo de servir e ser meio de transformação de quem passa por mim.
Eu não posso deixar de agradecer por todo carinho que recebi durante esses quase seis meses de pausa, manifestado por meio de questionamentos de quando eu voltaria e do quanto que acompanhar esta coluna, semanalmente, estava fazendo falta na rotina. Enfim voltei, vocês não imaginam o prazer que é estar de volta e do quanto eu senti falta de escrever estas linhas, me mostrar e me transformar através delas, plantando uma sementinha de autoconhecimento e reflexão na sua jornada aí do outro lado, meu amado leitor – que delícia poder escrever isso de novo!
Pois bem, sigamos!
Eu não sei se você já parou para observar e se deu conta do quanto que a sua fala diária é depreciativa, desrespeitosa, desqualificadora, punitiva, cobradora com você mesmo, meu amado ser de luz. Já parou para perceber a forma que você se refere a você? Como você se trata, como lida com seus erros? Qual o teor da conversa interna aí na sua cabeça?
O maior inimigo da rocha não é a picareta, o machado, a marreta ou qualquer outro instrumento de força que, em alguns poucos golpes, rompe sua solidez. O maior inimigo da rocha é a água, a gota d’água. Aquela gotinha miúda que, silenciosa e despretensiosamente, vai entrando por suas frestas, minando sua estrutura e, quando menos se espera, leva à ruína.
O mesmo acontece com a gente, meu amado leitor. Muitas vezes a gente fica se questionando, querendo entender por que não consegue sair do lugar, mudar um padrão, assumir uma nova postura diante da vida; e essa mera observação de como você se relaciona com essa pessoa que habita dentro de seu maravilhoso corpinho é um belo indicativo. É a condição dessa relação que define a qualidade da sua vida.
Será que a forma como você se trata está sendo essa água que lentamente vai corroendo sua autoestima, autoconfiança, senso de merecimento, percepção de valor? Será que a maneira como você se enxerga e as crenças enraizadas de menos valia não estão drenando sua força de movimento? Te paralisando e impedindo de se lançar na vida como a ave que confia em suas asas e capacidade de voar, e não no galho que se apoia.
Observe, meu amado ser que me lê aí do outro lado. Observe as palavras que você utiliza para se autorreferenciar, esteja presente na maneira que você se cobra e se pune. É realmente necessário pesar tanto a mão? E aqui também não há espaço para vitimismo barato e autopiedade. A conversa não é essa. Não é oito e nem oitenta, nem tanto ao céu e nem tanto à terra.
A questão é não deixar essa fala depreciativa sem rédea, desgovernada. É equilibrar a balança, não há necessidade de ser tão punitivo consigo mesmo; a mão que se levanta para bater é a mesma que se levanta para acarinhar, o que muda é a motivação e estar em harmonia com o que se sente. Saber lidar e o que fazer com o que se sente. Dar o devido destino, estar com a bússola calibrada.
E agora eu te deixo com um convite, meu caro leitor: além de estar presente no que diz, por que não substituir um pensamento, fala, autorreferência dura e penosa por uma mais compassiva, mais amorosa? Olha que lindo, até rimou!
Quem sabe, a partir daí, a mudança e transformação pessoal que você tanto deseja comece a acontecer. Quem sabe…
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito