A “perseguição” ao presidente Michel Temer não é só do Ministério Público. É também da Polícia Federal, que coloca o chefe do Executivo no topo de uma organização criminosa.
Aliás, a defesa do ex-presidente Lula usa a “perseguição” como argumento para justificar todas as acusações contra o petista. Neste ponto, o temismo e lulismo se parecem.
Outro detalhe é que os advogados de Lula precisam dizer para seu cliente que seu comportamento diante dos depoimentos, quase sempre desdenhando da Justiça, não é o melhor caminho.
Voltando a Temer, assim que PF apontou o mandatário-mor como o mandachuva da quadrilha do PMDB na Câmara dos Deputados, a secretaria de Comunicação da Presidência soltou uma nota dizendo que “os facínoras roubam do país a verdade”.
O mais hilariante foi dizer que as denúncias contra o presidente Temer “visam enfraquecer o governo e provocar a instabilidade das instituições”.
Ora,o desmantelamento das instituições, causando fissuras na parede do estado democrático de direito, daria se elas ficassem inertes diante dos escândalos protagonizados pelos agentes públicos.
Essa acomodação, que soaria como uma complacência, uma tolerância com os corruptos, é que provocaria a instabilidade e o descrédito das instituições.
A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça como um todo são instituições dignas de respeito, fazem o seu papel constitucional.
Distorções existem em todos os poderes da República, na PF e no MP. Então que se apure e puna os que violam a lei. O que é inaceitável é o ataque odioso e irresponsável.
Querem o que? Que tudo permaneça como se todos fossem inocentes? Que os “facínoras” cruzem os braços e deixem o lamaçal tomar conta do país?
Viva as instituições! Viva o povo brasileiro! Viva a democracia!
A expectativa em torno de Raquel Dodge
Como vai se comportar Raquel Dodge no comando da Procuradoria-Geral da República? Essa é a pergunta que começa a ser feita nos bastidores do Palácio do Planalto.
Dodge substitui Rodrigo Janot. Ela foi escolhida pelo presidente Michel Temer, mesmo sendo a segunda mais votada em eleição interna na PGR.
Temer, ao optar por Raquel Dodge, quebrou a tradição de indicar o mais votado da lista tríplice, contrariando assim a vontade da maioria dos procuradores.
Janot fica na chefia do Ministério Público Federal até o próximo domingo, dia 17. A doutora Raquel assume e fica dois anos no cargo.
No decorrer da titularidade, Raquel Dodge vai ter que tomar decisões que podem contrariar os interesses de quem foi o responsável direto pela sua indicação.
A PGR vai ter que decidir se denuncia o presidente pelos crimes ou arquiva o caso. Se denunciar, o processo só prossegue com o consentimento da Câmara dos Deputados, com o aval de dois terços dos parlamentares.
O julgamento na Casa Legislativa é eminentemente político. Segue os interesses dos políticos e não da sociedade. Essa que se dane, que vá chorar no pé do caboclo, como diz a sabedoria popular.
Raquel Dodge não vai se deixar levar por outro caminho que não seja o da lei. Assim como fez Joaquim Barbosa, então ministro do STF, no escândalo do mensalão petista. O agora presidenciável foi indicado por Lula para a Suprema Corte.
É como diz o ministro Barroso: “Existe o ônus pessoal e político de se investigar um presidente da República. Mas é o preço imposto pelo princípio republicano, um dos fundamentos da Constituição, ao estabelecer a igualdade de todos perante a lei e exigir transparência na atuação dos agentes públicos”.
Usando uma linguagem bem popular, que possa ser facilmente entendida pelo povão de Deus, o ministro quis dizer que não tem ladrão de classe A, B e C quando se rouba os cofres públicos.
Se o preceito constitucional de que “todos são iguais perante a lei” fosse levado à risca, a impunidade já teria cometido suicídio, para o desespero dos larápios, gatunos e ratos engravatados.
De volta ao passado
O comentário de Levi Vasconcelos sobre a criação do Fundo do Cacau, no jornal A Tarde, edição do último domingo (10), me fez lembrar do meu primeiro artigo no então Diário de Itabuna.
Na sua coluna, Levi diz que “as entidades que gravitam no entorno do cacau se uniram numa missão bastante singular: criar o Fundo do Cacau, a exemplo do que já existe em outras culturas, e dessa forma gerar recursos para implementar os interesses específicos dos produtores.
No Diário de Itabuna, comandado pelos irmãos Valdeny e Nilson Andrade, fiz uma proposta para a criação de um fundo para bancar os estudos de quem não tivesse condições, pagando todas as despesas: matrícula, taxas, transporte, livros, alimentação…
Na época, a vontade de todos era entrar na FESPI, que hoje é a UESC. A luta pelo ensino público caminhava de vento em popa, com o PT, PCdoB e PDT na linha de frente.
Os brizolistas – eu era vice-presidente do PDT de Itabuna e presidente do DA de Direito – estavam presentes na histórica audiência com o então governador Waldir Pires sobre a estadualização da FESPI.
O comandante-mor do brizolismo grapiúna era o saudoso e inesquecível Dagoberto Brandão. Político nota 12, homem de bem e exemplo de dirigente partidário.
Costumo dizer que meu modesto jornalismo político é fruto da inquietude e da inteligência do velho Dagô, da irreverência de Eduardo Anunciação e da inconformidade de Hélio Pitanga.
O fundo de hoje é para socorrer os produtores. O meu é para custear o sonho de milhares de jovens. Os produtores querem uma contribuição de 1% no ato da venda do cacau. A minha era de 5%.
Esse percentual motivou uma enxurrada de críticas entre os senhores do “fruto de ouro”. Lembro que só meu pai, que continua aos trancos e barrancos sendo cacauicultor, me fez elogios. Confesso que até hoje tenho uma dúvida: teria ele ficado do meu lado porque é meu pai?
No mais, o comentário de Levi me empurrou para dentro do túnel do tempo. De um tempo cheio de utopias, esperanças e sonhos. De um tempo em que se fazia política com P maiúsculo, com convicção e ideologia.
O PMDB de Bruno Reis
O vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis (PMDB), tem todo o direito de defender sua legenda diante dos sucessivos escândalos protagonizados por suas lideranças.
Quando questionado se o PMDB corre o risco de perder quadros em decorrência da dinheirama encontrada no “bunck” de Geddel, Bruno diz que não.
Ao justifica o “não”, o vice, que pode virar prefeito se ACM Neto disputar o Palácio de Ondina, se empolga: “O PMDB passa por um processo de renovação e deve ganhar fôlego”.
O PMDB passando por um “processo de renovação”, com Romero Jucá no comando nacional da legenda, é brincadeirinha. A tábua de salvação é o tempo que dispõe no horário eleitoral, motivo do toma-lá-dá-cá.
Para que o PMDB seja outro, o PMDB que deseja Bruno Reis, é preciso que o partido passe por uma gigantesca assepsia. Uma limpeza de cima para baixo, do planalto para a planície.
O vice-prefeito sabe disso. Bruno não é nenhum neófito e, muito menos, um ingênuo a ponto de acreditar que o PMDB passa por uma mudança.
O PMDB continua o mesmo. O PMDB de priscas eras, como diria o saudoso e inesquecível jornalista Eduardo Anunciação, hoje em um lugar chamado eternidade.
Geddel não é Dirceu
De público, o pessoal do presidente Michel Temer tenta demonstrar que não há nenhuma preocupação com a prisão de Geddel.
Em conversas reservadas, longe dos holofotes e dos caderninhos de anotações dos jornalistas, ninguém aposta em um Geddel ao modo José Dirceu.
O choro do ex-todo poderoso homem de confiança de Temer, no seu depoimento no âmbito da Operação Lava Jato, prova que o peemedebista não tem “nervos de aço”.
Longe de Geddel uma declaração como a do petista: “Prefiro morrer que rastejar e perder a dignidade”, disse Dirceu sobre a devastadora delação do “companheiro” Palocci.
Uma eventual delação de Geddel só teria serventia se o alvo principal for Temer. Assim como aconteceu com Palocci em relação a Lula.
Bom mesmo era um depoimento agora, com Rodrigo Janot ainda na chefia do MPF. Depois vai ficar complicado, os ventos vão soprar em outra direção.
Sobre o desabafo de Dirceu, é bom dizer que “dignidade” não se comprova só com companheirismo. Tem que vim acompanhada de respeito à lei, de valores e princípios.