Quando eu engravidei, quando eu descobri que seria mãe, a frase que eu mais escutei foi: “você nunca mais estará sozinha.” E as pessoas falavam isso como se fosse um alívio, um consolo, uma garantia de que, a partir dali, algum vazio estaria preenchido, como se a solidão fosse uma espécie de mal a ser duramente exterminado. Mas, para mim, essa frase carregava uma ambiguidade profunda e me colocou diante de uma reflexão incômoda: por que temos tanto medo de estar sozinhos?
Meu amado leitor, o medo da solidão diz muito mais sobre a nossa relação conosco do que com o outro. A ideia de que estar acompanhado é sinônimo de felicidade tem alimentado gerações inteiras que preferem qualquer companhia a ter que encarar a própria presença. E, veja bem, não estou aqui desmerecendo a beleza que é ter um filho, construir vínculos, partilhar afetos. Muito pelo contrário! O que me inquieta é o peso que colocamos sobre o outro — neste caso, sobre um filho — de nos preencher, de nos completar, de ser o antídoto para os nossos vazios internos.
A solidão, quando não entendida, se transforma em angústia. Mas quando bem vivida, quando abraçada, ela é sagrada. É nela que ouvimos o sussurro da nossa alma. É nos momentos de silêncio e presença com nós mesmos que conseguimos escutar as verdades que abafamos na correria do cotidiano, nas demandas do outro, no barulho da vida. Evitar a solidão é, muitas vezes, uma forma de fugir da nossa verdade mais essencial.
Ficar sozinha é ter o espaço para se olhar com profundidade, sem distrações, sem personagens. E isso, meu amado ser que lê essas linhas aí do outro lado, pode ser desconfortável, sim! Porque nem sempre o que encontramos é bonito ou fácil de aceitar. Mas é necessário. Estar sozinha é também um ato de coragem, de amadurecimento emocional. É se dar a chance de ser inteira, antes de querer ser par.
Maternidade não deveria ser sinônimo de ausência de si. Pelo contrário, deveria ser uma ampliação do próprio ser. Um convite a mergulhar ainda mais fundo em si mesma, para então conseguir oferecer a esse pequeno ser que chega algo genuíno, sólido, saudável. Mas como fazer isso se fugimos de nós a todo instante?
Repare, o verdadeiro encontro com o outro só é possível quando existe um encontro verdadeiro com a gente. Se não conseguimos ficar sozinhos com nossos pensamentos, com nossas dores, com nossos silêncios, como vamos sustentar a presença de alguém em nossa vida de forma leve, amorosa e inteira?
Então, neste Dia das Mães, além dos parabéns, dos presentes, dos cafés da manhã recheados de carinho, deixo aqui um convite: que tal ressignificar a solidão? Que tal permitir que, mesmo com filhos, parceiros, amigos e família, você possa cultivar momentos seus, inteiramente seus? Não como uma fuga, mas como um retorno. Um retorno a si mesma.
Porque, ao contrário do que me disseram, eu continuo gostando e precisando muitas vezes ficar sozinha — e isso é ótimo. Isso em absolutamente nada me desqualifica como mãe, porque só assim eu continuo sendo eu. E a maternidade, quando vivida por uma mulher que não se abandona, tem muito mais chance de ser fonte de amor, e não de cobrança.
Afinal, ninguém merece o peso de ter que preencher o vazio de outro alguém.
Mariana Benedito – Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito