Você quer o que você deseja?


Mariana Benedito*: “espelho em que a gente enxerga dores que guardamos lembranças de abandono”.


 

Que pergunta óbvia, não é mesmo? Claro que eu quero o que eu desejo, Mari! Mas, meu amado leitor, não é tão simples quanto parece, não. Calma, vou explicar. Repare bem, um dos grandes mestres que a gente tem nesta vida são os nossos relacionamentos. A gente se relaciona o tempo todo, com tudo! Com nossa família de origem, com coleguinhas da escola, com amigos, com colegas de trabalho, com o povo da padaria, do mercado… a gente vive para se relacionar. E é nesse movimento de se mostrar, ver o outro, respeitar o espaço, saber impor e receber limites que a gente vai reconhecendo quem é, observando o que precisa ser lapidado e o que pode ser fortalecido.

Mas, meu amado ser, o relacionamento amoroso tem uma pitada e participação especial nesse balaio. Ele é um espelho em que a gente enxerga aquelas dores que guardamos lá da nossa infância, as nossas lembranças de abandono, rejeição, medo, inadequação.

O fato é que ninguém vive sozinho ou quer viver sozinho. E é aí, meu caro, que entra o título da nossa coluna desta semana. Ninguém quer viver sozinho, a gente quer alguém para dividir a vida, construir laços, vínculos, afetos. A gente deseja uma parceria, amar e ser amado, criar e construir uma família, uma história. Mas, quando eu pergunto aqui se você quer o que você deseja, é sobre você estar realmente disponível para o amor, para a relação, para a troca com o outro.

Você está emocionalmente disponível para bancar e sustentar todo o pacote que vem com a construção de uma relação? Encarar a vulnerabilidade necessária para o fortalecimento da intimidade? Despir não só o seu corpo, mas o seu coração no que diz respeito às emoções, sensações, inseguranças e, principalmente, a comunicação disso tudo?

Relacionamento requer comprometimento, dedicação, empenho, conversa, abertura. Pare aí neste momento, meu amado ser que lê estas linhas, e pense nos relacionamentos que você já teve. Quais foram as suas maiores dificuldades em cada um deles? Consegue perceber algum padrão de comportamento seu? Você conseguia comunicar o que desejava, sabia o que você precisava?

Agora veja, o mais importante de tudo, você já assumiu aí dentro que quer um relacionamento, entendeu com a verdade do seu coração que precisa do outro? E aí não me refiro ao precisar vital, daquele que se não tiver morre, mas sim de precisar do que é diferente. Eu, como mulher heterossexual, em minha energia feminina com toda a fluidez, milhares de ideias, falando pelos cotovelos, preciso de um homem com sua energia masculina prática, resolutiva e que delimite o campo. Estar aberto para entender, aceitar e reconhecer que precisa do outro é o primeiro passo para estar verdadeiramente disponível para um relacionamento.

Estar aberto significa ser flexível, ter espaço em sua vida para que o outro chegue e agregue. A gente só se sente confortável em lugares que nos cabem! Imagine você desejar conhecer uma pessoa de tal forma, casar em x tempo, na igreja tal, com x quantidade de convidados, na época tal, com lua-de-mel em tal lugar, para morar em uma casa de tal modo, ter um cachorro, uma gata e dois filhos que, inclusive, já têm nome. Qual o espaço aberto que existe para a outra pessoa? Qual o espaço disponível para a construção a dois, sabendo que quem chega vem com seus desejos, seus sonhos, suas visões de mundo.

Será mesmo que você quer o que você deseja?