Dia 16 de março de 2022. Quando o juiz trilou o apito pela última vez no Estádio Municipal Carmelito Barbosa Alves, decretou a vitória do Barcelona de Ilhéus sobre o Doce Mel por 2 x 1. Mais do que isso, sacramentou algo até há pouco tempo inimaginável: uma semifinal de campeonato baiano sem Bahia e sem Vitória.
Méritos de uns, deméritos de outros, a verdade é que o futebol brasileiro tem visto uma mudança significativa entre as forças tradicionais do esporte, com camisas pesadas sucumbindo a outras menos tradicionais e, por vezes, recém-chegadas ao cenário da bola. Exemplos podem ser encontrados nas primeiras fases da Copa do Brasil, quando o Globo, do Rio Grande do Norte, desbancou o tradicionalíssimo Internacional. O rival Grêmio caiu diante do Mirassol, do interior paulista. E o Vasco da Gama foi eliminado pelo Juazeirense, outro orgulho do futebol baiano.
Normalmente associa-se conquistas de campeonatos a equipes tradicionais, ainda que o time fique por anos, às vezes décadas, na fila. A Inglaterra, berço do esporte, ganhou sua Copa do Mundo há muito tempo, e desde então muitos de seus jovens e fanáticos torcedores têm vivido uma vida de quase-vitórias, com as semifinais dos mundiais de 1990 e 2018 e o vice na Eurocopa de 2020.
Agora, as coisas podem estar mudando e os títulos, em vez de irem para os times de sempre, podem ir para antigos coadjuvantes. O campeão baiano de 2022 já será uma novidade. E outras podem surgir, especialmente em campeonatos regionais ou nas copas de tiro curto. O Brasileirão da primeira divisão, porém, ainda parece ser um sonho impossível para uma equipe menor, dada a disparidade de elencos dos principais concorrentes, aliado ao fato de ser um campeonato no qual a regularidade – e o banco de reservas – são muito importantes.
Já na Série B, há dúvidas profundas sobre a performance de times tradicionais, ex-campeões nacionais. Cruzeiro e Vasco da Gama mostraram dificuldades nas edições passadas, e este ano terão a companhia do Grêmio na briga por uma vaga de acesso. E a história recente mostra que na Segundona vale mais o espírito de equipe do que a tradição da camisa.
Para aqueles que se perguntam por que este processo de mudança está acontecendo, a resposta pode ser dada em uma palavra: gerenciamento. Feito de forma responsável e inteligente, ele é um grande aliado na construção de um grande time. Usado de forma irresponsável, é uma âncora que arrasta equipes divisões abaixo.
É fácil perceber quando os recursos do clube são mal utilizados. E as maneiras de fazer errado são praticamente infinitas. Já fazer certo é mais difícil, e requer disciplina. Para qualquer dirigente que se interesse, aqui vão algumas dicas.
Gaste apenas aquilo que arrecada
Um clube deficitário é um clube que vai ter problemas. Pode demorar mais ou menos tempo, mas a conta sempre chega. E, quando chega, é pesada. Eventualmente pode ser tão dura a ponto de ser impossível de pagá-la sem sacrifícios extremos, como venda de ativos do time – jogadores ou propriedades.
Compre bem, venda bem
O Brasil é um celeiro infindável de jogadores de futebol. É possível contratar nomes emergentes e desenvolvê-los para, depois, vender com um bom lucro. Isso, porém, requer investimentos nas categorias de base, em estrutura de treinamento e em equipes de olheiros profissionais.
Invista em formação e conhecimento
A recente onda de técnicos estrangeiros tem mostrado que preparação e estudo fazem a diferença. Na hora de contratar um treinador, é necessário investir em alguém realmente preparado para o cargo. E acreditar nessa escolha. Pode ser preciso tempo para os resultados aparecerem.
Como mostram os eventos recentes, times pequenos, mas bem arrumados, podem conseguir grandes conquistas. Se não campeonatos, ao menos acesso a torneios continentais, como o América Mineiro, que este ano debuta na Copa Libertadores da América. Se irá vencer, não se sabe. Porém, mais do que troféus, as novas caras do futebol brasileiro querem conquistar o respeito de torcedores, da imprensa e dos adversários. E assim conseguir o seu lugar ao sol.