Os preteridos para ser o vice de ACM Neto na disputa pelo Palácio de Ondina, José Ronaldo e Marcelo Nilo, precisam entender que o ex-prefeito de Salvador não podia tomar uma decisão que provocasse um atrito com o partido Republicanos, ligado a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e tendo como principal liderança na Bahia o bispo-deputado Márcio Marinho, presidente estadual da sigla.
Se não perceberam o previsível, foram ingênuos. Uma majoritária puro-sangue, com Neto e José Ronaldo, ex-prefeito de Feira de Santana, ambos do União Brasil, iria causar uma insatisfação bem maior. Com efeito, era o que a base aliada do governador Rui Costa (PT) queria.
Quem já foi sete vezes deputado estadual, comandou a Assembleia Legislativa do Estado (ALBA) por cinco mandatos consecutivos, atual deputado federal, deveria ter uma visão mais ampla do que acontece nos bastidores do perverso, traiçoeiro e movediço mundo da política, onde os menos espertos conseguem beliscar azulejo.
Estava escrito nas estrelas que a escolha para compor a chapa de Neto no cargo de vice seria do Republicanos. E se não fosse a empresária Ana Coelho, seria Márcio Marinho. Outro ponto é que Félix Júnior, presidente estadual do PDT, emitiu vários sinais de que a sigla não aceitaria Nilo como vice do ex-gestor soteropolitano, deixando nas entrelinhas até um possível rompimento.
Félix, além da desavença política com Nilo, que já tentou por mais de uma vez tomar o comando do PDT, fazendo articulações com membros da cúpula nacional da legenda, tem problema de ordem pessoal com o ex-aliado do PT.
Voltando a José Ronaldo, vale lembrar que na sucessão presidencial de 2018, o ex-alcaide não foi correto com ACM Neto. O então prefeito de Salvador era o coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à presidência da República pelo PSDB. José Ronaldo não seguiu o chefe do Thomé de Souza e passou a apoiar Bolsonaro, provocando assim uma fissura na liderança do colega de partido, na época o DEM.
É evidente que esse imbróglio do apoio de José Ronaldo a Bolsonaro não foi a causa que levou o ex-alcaide a ficar fora da chapa de oposição ao governo de plantão, mas deixou sequelas que terminam sendo lembradas.
Em comum agora entre as campanhas de Neto e João Roma (PL), que têm duas mulheres como vice, a estratégia de acusar a chapa do governismo, encabeçada por Jerônimo Rodrigues (PT), de “machista”, que só tem “marmanjos”. O vice é o emedebista Geraldo Júnior e o candidato a senador é Otto Alencar (PSD-reeleição).
No frigir dos ovos, ACM Neto tomou a decisão acertada, a menos, digamos, traumática. Agora é administrar as consequências e juntar o grupo em torno da sua candidatura.