Por Celina Santos
O escritor Firmino Rocha, que eternizou o poema “Deram um fuzil ao menino”, certamente escreveria versos igualmente profundos ao conhecer o trabalho do maestro Antônio Bispo. À frente da Orquestra Sinfônica de Itabuna e Ibirapitanga, ele garante a dezenas de crianças a adolescentes a possibilidade de mergulhar no sedutor universo da música.
É assim com meninos e meninas a partir de seis anos, num espaço no bairro de Fátima (onde funcionou o Colégio Ciso) e outro no Monte Cristo, com apoio da Base Comunitária da Polícia Militar. De forma gratuita, aqueles menores de “baixa renda” aprendem a cantar e/ou tocar instrumentos, como violino, viola, violoncelo e baixo acústico.
Sereno, o encontramos por acaso e ali descobrimos a riqueza de um trabalho desenvolvido há 18 anos. Seu Antônio, de 67 anos, é também funcionário da Ceplac (setor de botânica). No tempo livre, dedica-se a compartilhar o conhecimento adquirido numa longa trajetória guiada pelos acordes. “Mais que uma terapia, é o futuro deles, uma profissão”, aposta o músico.
Uma missão no mundo
Questionado sobre número estimado de alunos que já passaram pelos ensinamentos dele, preferiu não quantificar e relatou um dos tantos episódios marcantes. “Fui convidado para um encontro de maestros, na Orquestra Sinfônica da Bahia. O estado pagou tudo, levei dois alunos, passamos por um ensaio e uma pessoa chamou: ‘Professor, fui aluno do senhor no Ciso!’, recorda.
O maestro, com voz que denota paciência, revelou que busca apoio (do poder público) para dar sequência (e até ampliar) a iniciativa. “Ganhamos os instrumentos de orquestras da Europa, mas temos o gasto com cordas; quem conseguiu foi um amigo meu que tem uma fábrica de violinos no Espírito Santo, ele doou os arcos e até hoje ajuda, na medida do possível”, detalha.
Questionado sobre custos mensais, ele calcula cerca de R$ 400,00 e no encordoamento dos instrumentos e lanche para os alunos. Atualmente, informa ele, há cerca de 30 alunos naquele espaço. “Para fazer a inscrição, basta ir na base da Polícia Militar. Se for menor, leva os pais”, explica.
Esse maestro, que executa um trabalho social de valor imensurável atendendo a convite da PM, conta que começou a tocar instrumentos há 49 anos. O início nos acordes foi na Igreja Batista Teosópolis, a convite da saudosa professora Olga Ribeiro.
“Toco violino, viola, violoncelo, guitarra, violão, harpa e dou aula de canto… hoje ensino crianças a cantar e tocar. Essa é minha missão mundo, junto com o cuidado com a família”, finaliza, para nossos efusivos aplausos.