Após desentendimentos, Conselho de Servidores quer saída de Juvenal Maynart da Ceplac



Por Celina Santos

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José Bezerra da Rocha tem 40 anos de carreira na Ceplac. Foto: Diário Bahia

Um cenário de divergências marca o atual momento da Ceplac – há seis meses transformada em departamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através do Decreto 8852, de 20 de setembro de 2016. De um lado, o Conselho das Entidades Representativas dos Servidores (CE) acusa o diretor, Juvenal Maynart, de ignorar uma minuta de Projeto de Revitalização, elaborada ao longo de seis meses. E quer a saída dele do cargo. De outro, o gestor alega estar agindo para adaptar a estrutura à nova realidade. Acompanhe, então, os argumentos de cada ponta desse imbróglio.

O coordenador do Conselho, o Agente de Atividade Agropecuária José Bezerra da Rocha, informou ao Diário Bahia que a proposta, da qual é relator, é assinada por representações como: Governo do Estado, Ceplac, Amurc, Agricultura Familiar, Câmara Federal, UFSB, UESC, IfBaiano, FAEB e Assembleia Legislativa. Tais instituições formam a CRC (Comissão de Revitalização da Ceplac), presidida pelo deputado federal Davidson Magalhães (PCdoB).

“Após a elaboração, era preciso formar uma agenda de discussão nos diversos setores da sociedade regional e nos cinco estados onde o órgão está inserido. Pra isso, contávamos com o respaldo institucional. Para nossa surpresa, Juvenal Maynart assume a Ceplac e despreza completamente a construção desse documento”, declarou Bezerra, esclarecendo que a minuta foi entregue em dezembro, mas ainda não houve uma resposta.

Segundo o ceplaqueano, as entidades farão audiências públicas, “à revelia de Juvenal Maynart”, a partir da segunda quinzena de março, para apresentar o conteúdo e receber contribuições. “Além de não acolher, ele banalizou o projeto, na medida em que está dizendo que a Ceplac já morreu. Na visão dele, só resta um caminho: inserir no espaço físico da Ceplac a UFSB [Universidade Federal do Sul da Bahia]. Está trabalhando para extinguir a Ceplac, é um equívoco tremendo”, disparou.

Ainda sobre a inserção da citada Universidade, Bezerra disse que as entidades não são contrárias, mas esperam uma contrapartida, em forma de reparos e manutenção em prédios e laboratórios, por exemplo. “A UFSB já levou 37 hectares da Ceplac, para abrigar a estrutura das ciências agroflorestais; agora mais 38 para construção do Parque Tecnológico; a biblioteca já está com a UFSB e mais alguns espaços físicos… A Ceplac está fazendo o trabalho de cooperação e em contrapartida não houve nada ainda”, argumentou.

Mudanças na extensão

O Conselho de Entidades questiona, também, a determinação para saída de 100 extensionistas do prédio do Cenex (Centro de Extensão) para o Cepec (Centro de Pesquisa). O grupo entende que o novo local não comporta e que os dois setores não podem trabalhar num mesmo espaço físico. “Os servidores não vão desocupar o prédio, é uma decisão do movimento. Quem produz tecnologia não pode ocupar o mesmo ambiente de quem difunde. A difusão vai em todo território onde tem o cacau: nas fazendas, nos municípios”, observou.

Bezerra, primeiro a descobrir uma planta tolerante à vassoura de bruxa e um dos precursores do projeto de clonagem em cacaueiros, reforçou que a defesa deles é em nome da Ceplac. “O que quer se preservar não são as edificações; é a instituição com seus valores, com seus resultados. São resultados ainda capazes de revolucionar a tão combalida região cacaueira”, ressaltou.

Diante do impasse, informou o coordenador, o Coletivo de Entidade já levou ao Ministério da Agricultura o pleito pela remoção do diretor da Ceplac. “O próximo passo é uma ação política envolvendo o governo do estado e a Câmara Federal”, completou.

O órgão singular transformado em departamento tem um total de 1.700 servidores, dos quais 1.200 na Bahia.

Juvenal Maynart: “É melhor configurar a Ceplac

à nova realidade; essa é a minha função”

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Juvenal Maynart. Foto: internet

O diretor Juvenal Maynart disse reconhecer a importância da Ceplac para a história do sul da Bahia, assim como os resultados do trabalho por ela desenvolvido ao longo dos anos. Entretanto, ressalvou, tem agora a tarefa de adaptar o ex-órgão singular à condição de departamento do Ministério da Agricultura.

“A proposta de revitalização [apresentada pela comissão] é ideal para a região, mas não cabe no modelo do decreto. Estamos buscando um novo modelo de regimento interno, para identificar as necessidades dentro do departamento. É melhor configurar a Ceplac à nova realidade; essa é a minha função. A discussão deve partir para o campo político, e não organizacional”, afirmou ao Diário Bahia, lembrando que o novo chefe é o secretário executivo do MAPA, Elmar Novacki.

Ele informou que uma das mudanças com a transformação da Comissão em departamento foi criar a Divisão de Pesquisa e Extensão, setor que substitui o Cenex e o Cepec. “Os extensionistas trabalham numa área de quatro mil metros; queremos a otimização do espaço para diminuir custos; não é outra coisa. O espaço é grande para a quantidade de gente. Buscamos que a Ceplac seja um órgão redivivo em bases hodiernas”, reforçou.

Com relação à UFSB, Maynart explicou que a tônica agora é buscar parcerias, no intuito de adaptar a estrutura aos tempos atuais e torná-la funcional. Citou, inclusive, a cessão de 37 hectares para construção do Centro de Formação em Ciências e Tecnologias Agroflorestais – e as perspectivas de as duas instituições ganharem com os frutos do trabalho ali desenvolvido.

Área doada pela Ceplac à UFSB
Vista aérea de onde será o Centro de Formação em Ciências e Tecnologias Agroflorestais