Indígena com maior prematuridade da história do HMIJS deixa UTI Neonatal 71 dias após nascimento


O quadro do paciente ainda inspira cuidados, mas o pior já passou


Foram 71 dias de situações e de momentos delicados, de uma verdadeira maratona pela vida. Neste período, os pais não se ausentaram um só minuto do hospital e os profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não mediram esforços para vencer o desafio da prematuridade. Na retaguarda, a equipe de terapeutas ocupacionais e de psicólogos ajudou no bem-estar emocional da família. Mas chegou a hora de virar a página desta história.

Na segunda-feira (27), finalmente, foi possível comemorar uma importante vitória: o indígena com maior prematuridade já registrado desde a inauguração do Hospital Materno-Infantil foi transferido para um dos leitos da UTI Intermediária, onde são realizados tratamentos semi-intensivos a pacientes com risco moderado. O quadro do paciente ainda inspira cuidados. Mas o pior já passou.

Haynarú Rudá nasceu no dia 16 de novembro do ano passado, pesando apenas 980 gramas e com 37 centímetros. Filho de pai Pataxó e de mãe Tupinambá de Olivença, o parto natural ocorreu no primeiro dia da 26ª semana de gestação. O nome escolhido traz a força da história de um povo e o amor que une duas representativas etnias da história do Brasil. Haynaruá, vem do Patxohã, a língua dos Pataxó, da região de Porto Seguro e significa “Nasceu caçador”. Rudá, de origem tupi, língua dos Tupinambá, traduz a “Divindade do Amor”.

*Força e fé*

Os últimos meses têm sido de muitas orações. Rituais com lideranças indígenas Tupinambá – respeitando as tradições culturais dos dois povos – aconteceram no leito onde a mãe, Laís Eduarda, se recuperou nos primeiros dias do parto; e seguem, como uma rotina, na área verde do hospital. Não é diferente na aldeia Itapuã, onde vivem, e ela é professora na escola da localidade. A comunidade se reúne tradicionalmente todas as sextas-feiras para o Porancy (ritual sagrado), agora com mais um pedido aos que eles definem como “encantados” pela franca recuperação do curumim.

Com a ida de Haynaruá Rudá para a UTI Intermediária, diminuiu o caminho para a alta hospitalar. O próximo – e decisivo – passo será a Unidade Canguru. Mas ainda sem prazo para isso acontecer.

*SUS para todos*

O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a única unidade hospitalar da Bahia habilitada pelo Ministério da Saúde para atendimento aos Povos Indígenas. Para ter esta aprovação, o Materno-Infantil colocou em prática diretrizes gerais que norteiam o programa, que vão desde a melhoria no acesso das populações indígenas ao serviço especializado; adequação da ambiência de acordo com as especificidades culturais; e ajuste de dietas hospitalares considerando os hábitos alimentares de cada etnia. A iniciativa conta ainda com o acolhimento e humanização das práticas e processos de trabalho dos profissionais em relação aos indígenas e demais usuários do SUS, considerando a vulnerabilidade sociocultural e epidemiológica de alguns grupos.

Também estão previstos fluxo de comunicação entre o serviço especializado e a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, por meio das Casas de Saúde Indígena (CASAI) e a qualificação dos profissionais que atuam nos estabelecimentos que prestam assistência aos povos indígenas quanto a temas como interculturalidade.

O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira maternidade 100% SUS da região sul do Estado. Foi construído pelo Governo da Bahia e entregue em dezembro de 2021. É administrado pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS) e possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal. Nestes três anos de funcionamento registrou a marca de mais de nove mil bebês nascidos na unidade. Destes, 385 foram indígenas.