Por Celina Santos
Ela causa frisson por onde passa, primeiro pela beleza; depois, mostra que tem muito mais do que aparência para mostrar. E conquista reverência, pela firmeza, liderança e inteligência. Após dois mandatos como presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Maria Quitéria Mendes de Jesus deixa sua digital na luta municipalista.
Aos 38 anos, ela é formada em Administração, pós-graduada em Direito público e mãe de dois filhos – uma de 19 e um de 15. A ex-prefeita de Cardeal da Silva revela, em entrevista ao Diário Bahia, durante visita à região, parte das credenciais que lhe levaram a ser tão respeitada nos 417 municípios baianos.
A senhora tem o nome de uma personagem importante na independência da Bahia. Mas que marca essa Maria Quitéria do século 21 já pode deixar na nossa história?
Acho que minha marca não é diferente da Maria Quitéria heroína. Eu me vesti de homem, igual a ela. Ao entrar na política, a gente tem que ter uma personalidade para ser respeitada, tem que se impor. Não é a vestimenta em si, mas a forma como você age e trata, pra que as pessoas não olhem pra você como um “sexo frágil”. Então, acho que a marca de Maria Quitéria heroína, como se vestiu de homem pra lutar na guerra, eu faço o mesmo pra lutar por meus ideais; acredito na força que o município tem com a sociedade. Acho que a coragem é a minha marca; a marca de buscar, de ousar, mesmo sendo de família pobre. Virei prefeita da minha cidade [Cardeal da Silva], uma cidade pequena do interior, sem história política e sem padrinho político.
O que lhe motivou a entrar na política?
Ouvi muito o governo federal, o presidente Lula falar em projetos: “Ah, quem tem projeto consegue recursos”. Eu fui secretária [de Cultura e Turismo no município de Penedo], em Alagoas, e fiz muito. E visitando minha cidade, meu avô, o povo falava: “Poxa! Você tá fazendo um trabalho tão bonito lá! Por que não vem aqui?” Quando fui ver a realidade da minha cidade, não podia apenas sair. Eu já conhecia a vida pública, já sabia que podia, a gente agora tinha como fazer, mesmo sem ter padrinhos políticos, sem ter dinheiro pra fazer campanha. Na verdade, eu acreditei. Como Lula era um operário e virou presidente, eu acreditei que podia virar prefeita.
Sobre a UPB, o que foi melhor e o que foi pior em exercer um cargo de liderança num universo predominantemente masculino?
No início, ninguém acreditava em mim. Falaram, inclusive: “Ah, é uma menina!”. O próprio governador Jaques Wagner, na época, falava: “Poxa! Uma grata surpresa, Quitéria. Você faz um trabalho que a gente nem imaginava”. Por ser mulher, a gente tem que trabalhar dobrado.
Por quê?
Porque a gente precisa mostrar que é competente. Não precisa apenas ser; tem que provar que é. Tem que buscar fazer diferente, melhor a cada dia. Porque eles não acreditam na gente; o homem não dá voz à mulher. Essa semana eu tive que tomar o microfone do ministro.
Ser uma mulher bonita faz essa dificuldade aumentar?
Terrível! Porque acha que a bonitinha é burra, ela não é acreditada. Minha filha tem 19 anos e quer andar de shortinho. Eu digo: “Minha filha, tem lugares que não pode, tenho medo”. Ela diz: “A gente é livre; tem que andar como quiser e as pessoas têm que respeitar”. Mas a gente sabe que no mundo machista que nós vivemos não é assim.
Onde a sua carreira política vai continuar?
Ai… Pelas minhas frustrações e felicidades… Muitas vezes deixar minha família – tem uns quatro dias que não vejo meus filhos –, isso machuca bastante, tem esse lado que dói. Mas a gente tem um ideal…
Qual é o seu?
É ver um Brasil onde, de fato, todos sejam iguais, com oportunidades iguais. Nunca imaginei ver o Brasil sendo passado a limpo, com a “Lava Jato”. E eu esperei muito por isso.
Pretende lutar por esse Brasil estando em outros cargos políticos?
Independente. Conheci uma coisa que eu não conhecia hoje [dia 7 de janeiro], em Jequié: um Observatório Social. Fantástico, me apaixonei! Posso até ir para algum cargo, mas vou incentivar para que tenha um observatório em todas as cidades; vou incentivar para que a sociedade ao invés de muitos quererem estar lá, critiquem e sejam do observatório.
Caso surja algum cargo na própria UPB, a senhora aceita?
Qualquer lugar, não tenho vaidade de cargos; eu preciso pagar as contas. A gente vem conversando e acho que vou trabalhar com o governo [estadual]. Não tenho dúvida de que terei oportunidade de trabalhar. Meu ideal político com o município e, principalmente, órgãos de controle e fiscalização sempre vou estar buscando. Que façam a conscientização, a capacitação nas prefeituras, porque tem gente que quer acertar; temos que pensar sempre em quem quer fazer bem feito, quer fazer certo, fazer uma boa gestão. Essas pessoas eu quero sempre ajudar.
Qual palavra lhe define?
Simplicidade.