Momentos difíceis



Estamos passando em nossa Itabuna por momentos difíceis, em parte devido a fatores climáticos que escapam à ação do homem que não tem como enfrentar as forças inatingíveis da natureza e, por outro lado, o descaso dos diferentes governos que não atentaram, devidamente, para o problema do fornecimento de água à população, até chegarmos a esta situação que já perdura por alguns meses e só será atenuada quando a tão esperada chuva aparecer. Temos, também, já que fazemos parte deste imenso Brasil, que conviver com as vicissitudes oriundas de Brasília, com as crises política e econômica a que fomos levados nos últimos treze anos.

Para aumentar a nossa apreensão, estamos presenciando a situação preocupante da nossa Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, instituição que dentro de sete meses estará completando um século de existência e que é o principal complexo médico-hospitalar do interior do Estado.

Por diversas vezes tenho abordado, nas páginas deste jornal, as questões da saúde e, principalmente, da Santa Casa, que vem, desde alguns anos, mergulhada em dificuldades econômico-financeiras atingindo o ápice, nos dias presentes, com atraso de pagamentos a fornecedores, médicos e órgãos federais e a constante ameaça de encerrar alguns serviços ou, se nada for conseguido, até os três hospitais, o que seria um verdadeiro caos para a cidade e a região.

Nos últimos dias, o provedor Eric Ettinger Junior e seus pares da Provedoria, têm realizado um verdadeiro périplo pelos diversos setores da sociedade itabunense, mostrando a verdadeira situação da instituição que apresenta dívidas que ultrapassam os cem milhões de reais, operando com um passivo mensal de dois milhões.

Por que chegou a atual situação? Não é fácil explicar para o leigo e, em poucas palavras, a complexidade da assistência à saúde prestada por órgãos conveniados ao Sistema Único de Saúde e o pagamento inadequado que o SUS remunera pelos serviços realizados; por ser uma entidade filantrópica, está a Santa Casa obrigada a efetuar 60 % dos seus serviços ao SUS e ela faz muito mais que isso e aí encontra-se a principal causa do prejuízo crescente. Os diversos hospitais filantrópicos e beneficentes espalhados pelo país têm, em conjunto, uma dívida de vinte bilhões de reais. Quem sabe se a vultosa quantia roubada da Petrobrás e de outros órgãos governamentais não daria para quitar parte dessa dívida?

É uma situação que deve preocupar a todos os itabunenses pois já assistimos ao encerramento das atividades do Hospital Goretti e do São Judas, aqui em Itabuna; em Ilhéus foi fechado o Santa Isabel e, em Salvador, o centenário Hospital Espanhol; diariamente vê-se, na telinha da televisão, a queixa de usuários, Brasil afora, em relação à queda no atendimento, à falta de profissionais da área da saúde, à falta de medicamentos e equipamentos, numa área complexa, difícil e, cada vez, mais cara.

A nossa esperança – que é a última que morre – é que no próximo janeiro, possamos comemorar, com alegria, o centenário de nossa Santa Casa de Misericórdia de Itabuna; que esta crise não perdure tanto e que a população local se convença da necessidade de ajuda-la pois dela todos precisamos.